Quase diariamente, vemos na imprensa declarações e referências de representantes dos poderes públicos tendo como assunto os negócios relacionados ao turismo e seu papel no desenvolvimento de Pernambuco e sua capital. As autoridades e assessores ligados ao turismo também costumam viajar pelo mundo inteiro para divulgar as oportunidades de investimento no setor em nosso Estado. Supõe-se que nesse turismo, digamos, funcional, tenham ocasião de ver e anotar o que fazem outros países, até menos desenvolvidos que o nosso, no sentido de incrementar esse meganegócio, que eles costumam chamar trade turístico (a expressão inglesa dá status).
O resultado dessas declarações teóricas e dessas andanças é, temos de confessar, pífio. Nosso negócio turístico avança, se assim podemos dizer, a passos de cágado ou jabuti, na era dos supersônicos, da internet, do crédito fácil, da sempre crescente movimentação de pessoas pelo mundo todo, com direito a turismo extraterrestre.
A infraestrutura turística até que progride quanto a bons hotéis, restaurantes e atrações de lazer, algumas boas agências e outros serviços. Mas emperra lamentavelmente quanto a ligações rodoviárias, por exemplo. Estradas mal-conservadas, reparos intermináveis. As ferrovias para passageiros foram arquivadas, por governantes sem visão, devido ao lóbi rodoviário, enquanto na Europa e Estados Unidos viaja-se para toda parte em ótimos trens. Quanto a nós, ficamos sem trens e também sem boas estradas e transportes públicos. É andar para trás.
O imenso e precioso acervo histórico e artístico que possuímos não é bem conservado. Obras de restauração se eternizam. Sítios históricos e outras atrações, como as da orla marítima, não recebem o devido tratamento quanto a limpeza, higiene e boa urbanização. Além do mais, nem Estado nem prefeituras cuidam da preservação ambiental, do equilíbrio ecológico. Praias são privatizadas. Construções avançam quase até o quebrar das ondas. A flora nativa é sistematicamente destruída nos loteamentos. Uma praia ainda muito procurada, que é Porto de Galinhas, não consegue concluir obras de saneamento iniciadas há anos, o que causa transtorno e fedentina.
Abordamos hoje especificamente o que se passa no Sítio Histórico de Olinda, cidade que ganhou da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1982, mas é frequentemente ameaçada de perdê-lo por não cuidar adequadamente de seus monumentos. Em recente reportagem, o Jornal do Commercio mostrou como vias públicas do Sítio Histórico se transformaram em moradia de sem-teto e mendigos, que ali moram, cozinham, lavam e estendem roupas, fazem suas assim ditas necessidades fisiológicas, se divertem e até praticam sexo a céu aberto e em plena luz do dia.
Nossa reportagem trata especialmente das Ruas Henrique Dias e Coronel João Lapa, no Varadouro, cujos moradores denunciam a favelização da área, que inclui a praça onde funcionava o Cine Duarte Coelho. Eles se queixam ainda de brigas e dizem que até um assassinato já ocorreu por ali. Certamente não podem impedir essa favelização sozinhos. Mas cadê o poder público? O que diz a prefeitura?
As galerias pluviais foram desobstruídas antes do Carnaval, mas já estão entupidas de novo pelo lixo dos que vivem na rua. Eles precisam de assistência e amparo do poder público. O Centro Especializado de Assistência Social da PMO reconhece o problema, mas alega que não pode tirar as pessoas da rua a força. Existe uma República para a População de Rua, no Jardim Atlântico, para receber e ressocializar os moradores de rua. Mas, segundo informam responsáveis, essas pessoas passam por lá e voltam às ruas.
Alguns até recebem benefício de programas sociais. E há um grupo religioso que distribui sopa e colchões, o que é censurado pelos que habitam aquela área, que ponderam que isso piora a situação. Alimentados, os da rua passariam o dia bebendo e prejudicando quem ali reside. Qualquer que seja o ponto de vista adotado, o certo é que o turismo sai perdendo com a favelização do Sítio Histórico.
Publicado em 08.06.2009
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