segunda-feira, 24 de abril de 2017

Antonio Campos doa livros para bibliotecas em Olinda

Por Antônio Campos*

No mês de abril, que inaugura a primavera, comemora-se o Dia Internacional do Livro e do Direito Autoral (23 de abril), data oficializada pela UNESCO e que é festejada em mais de 100 países. A Espanha, desde 1926, já celebrava o livro na data da morte de Shakespeare e Cervantes, que é neste dia. Na região espanhola de Catalunha é o dia de São Jorge, da rosa e do livro: o dia do padroeiro, do amor e da cultura. As mulheres recebem flores dos homens, que retribuem, presenteando livros.

Há mais de 3 mil anos, na China, os livros eram feitos com chapas de madeira e bambu ligadas por barbantes de seda ou couro, com letras pintadas à mão. Depois, no Ocidente, vieram os tipos móveis e as bíblias de Gutenberg. Certamente, uma realidade completamente diferente da que temos hoje com os audiobooks e os e-books. Esses formatos de livros digitais, já indispensáveis para alguns, ganham cada vez mais espaço de exposição e discussão.

Uma biblioteca, seja pública ou comunitária, deve servir de exemplo de outros modelos sociais e de condutas cívicas. Em uma época de corrupção generalizada e indiferença, a biblioteca pública ou comunitária, pode nos ensinar e inspirar a nos comportar de outras maneiras e ensinar valores, ante o primado do conhecimento.

Precisamos combater uma grande fome do livro no Brasil. O direito à leitura e o acesso ao livro são direitos básicos do cidadão. Os direitos culturais são uma das principais vertentes dos direitos sociais. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) demonstram que pouco mais de 26 milhões dos 206 milhões de habitantes leem pelo menos um livro a cada três meses. E, pior, 61% dos adultos alfabetizados têm pouco ou nenhum contato com os livros. A grande revolução que este país precisa é a da educação e somente a ausência de fome, aliada ao conhecimento, podem libertar os nossos irmãos brasileiros.

A gigante Amazon está redesenhando a estratégia para o mundo editorial. Além do leitor digital Kindle e a sua plataforma de e-books, está avançando como um shopping virtual sobre o mercado brasileiro de vendas de livros físicos on-line, concorrendo com outras plataformas já existentes, como a B2W – dona da submarino e das americanas.com e a estante virtual. As redes de livrarias Cultura, Saraiva e FNAC estão em crise no Brasil. Fale-se no mercado na fusão da Cultura com a Saraiva.

Para o conhecido agente literário Andrew Wylie ”O desejo da Amazon é fazer com o mundo editorial o que a Apple fez com a indústria da música, baixar absurdamente o preço dos livros, até o ponto em que os autores, em vez de ganharem US$ 3 ou US$ 4 por cópia, recebam apenas 10 centavos. A Amazon é uma desgraça, um ataque à cultura. É importante que o mundo editorial apoie autores para combater as obscuras intenções da Amazon”.

A leitura de um livro não pode parecer uma obrigação, mas deve ser um ato de prazer ou paixão. Um livro tem que ser uma forma de felicidade. Alguém já disse que o livro é apenas um instrumento para encontrarmos a verdade por nós mesmos. O livro atravessou eras de guerra e perseguições, sobreviveu e, mais ainda, saiu fortalecido. Nesta época de contradições e incertezas, a cultura e o livro são armas para se manter os valores básicos do homem acima dos conflitos econômicos e de credo.

Desejamos contribuir para que o amor pelos livros seja disseminado em nosso país, o qual ainda precisa conquistar para seu povo um maior acesso ao livro e a leitura. O livro é uma forma de resistência e reexistência numa globalização que trouxe mais exclusão social e tensões entre culturas e religiões. Dedico esta palestra ao inesquecível José Mindlin, que viveu entre livros, que tive o prazer, recentemente, de visitar, em São Paulo, a Biblioteca Brasileira Guita e José Mindlin.

Dedico também as bibliotecas comunitárias de nosso Estado de Pernambuco, especialmente a escola Nova Esperança, em Rio Doce/Olinda, e seu esforço educador e de valorização do livro, tendo como timoneiro um reciclador de lixo, que dá o exemplo e mostra que a educação e leitura são os verdadeiros caminhos da mudança.

*Advogado, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras

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