Legado: Documentário de Cláudio Assis resgata líder do mangue beat
Renato L
Da equipe do Diario
A série Retratos Brasileiros, do Canal Brasil, examina, neste domingo, às 18h, e na quarta-feira, às 14h, a vida e a obra de Chico Science através de um documentário assinado pelo cineasta Cláudio Assis. Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar reúne uma seqüência de depoimentos de músicos e jornalistas ligados, diretamente ou indiretamente, ao mangue beat, como Fred Zeroquatro, Jorge du Peixe, Pupillo, Siba, Otto e Xico Sá, além do diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. Durante aproximadamente cinquenta minutos, eles analisam a trajetória desse mito pernambucano recente sem jamais descambar "para o sentimatalóide ou o chorôrô", como avisa o próprio Cláudio Assis.
Na tarde da última quarta-feira, a reportagem do Diario conversou por telefone com o diretor de Amarelo manga e Baixio das bestas sobre a empreitada. "Fui convidado pela emissora e tratei logo de consultar os meninos da banda. É uma questão de respeito, tem uma coisa afetiva nisso tudo", afirma. Como sinal positivo da Nação Zumbi, tratou de selecionar os entrevistados e as imagens de arquivo a serem utilizadas. "Fiz o roteiro sozinho, a grana era muito curta. Mas não tive problemas com gravadoras, todo mundo abriu as portas sem restrições".
De início, o Canal Brasil desejava que o documentário ficasse pronto numa data próxima ao aniversário de nascimento ou morte de Science. O diretor, no entanto, recusou: "meu compromisso, eu disse, é fazer um filme sobre o legado que ele deixou para dar um norte às outras gerações. A morte dele é uma fatalidade que acontece com qualquer um e não é o mais importante". Ainda assim, não há como escapar ao peso do trágico e repentino acidente que o vitimou: "tem algo que ele fala no show do Central Park, 'vocês pensam que estão me vendo, mas eu não tô mais aqui', que parece uma coisa premonitória", afirma.
Poucos cineastas brasileiros tem as credenciais de Cláudio Assis para dirigir um filme sobre Chico Science. Na ativa desde os anos 80, ele desempenhou um papel decisivo na retomada do cinema pernambucano de meados da década de 90 - uma movimentação que dialogou intensamente com a música produzida no Grande Recife. Um passo à frente#, no entanto, não tem pretensões à obra definitiva: "Chico merece que, um dia, alguém faça uma coisa em película mesmo, um negócio maior, que tente atingir a sua estatura artística".
Chico Science é apenas um dos grandes nomes da música brasileira ainda à espera de uma atenção maior por parte do cinema contemporâneo. Cláudio Assis afirma que, nesse quesito, "falta muito, ainda. Não temos um filme sobre Jackson do Pandeiro. Ele também deu uma contribuição à música mundial. Mas acho que a tendência é melhorar. Hoje, o documentário tá retomando o seu lugar, tá vindo de uma forma muito forte. Então, eu acho que a tendência é reparar isso aí".
Com a aprovação de Febre no rato no Programa de Fomento a Produção Audiovisual de Pernambuco, ele se prepara para voltar ao set. A trilha do novo filme vai ficar sob a responsabilidade de Jorge du Peixe. Na próxima semana, "Claudão", como os amigos o chamam, terá parte de sua filmografia exibida no projeto Cinema Falado, com sessões no Parque e no Apolo. Na quarta-feira, às 20h, ele participa de um debate no Apolo com o jornalista e cineasta Amin Stepple.
http://www.pernambuco.com/diario/2008/04/19/viver3_0.asp
Nenhum comentário:
Postar um comentário