terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Cavalo-marinho mantém acesa a tradição
Pedro Salustiano, um dos coordenadores do encontro, criou recentemente o grupo Pedra de Fogo; na foto, cena do espetáculo Samba no canavial. Foto: Rafael Coelho/Divulgação
Festival receberá grupos populares na Casa da Rabeca, de Mestre Salustiano, na Cidade Tabajara, e prossegue no primeiro final de semana de janeiro
Michelle de Assumpção
Da equipe do Diario
Pode ter show de rock e samba, mas a tradição do Natal pede que a música nordestina desta época seja composta por pastoris, cavalos-marinhos, cirandas e bois. Expressões desta cultura podem ser vistas hoje, quando tradicionalmente tem início o Festival de Cavalo-marinho de Pernambuco. O idealizador do encontro é o Mestre Salustiano, dono do cavalo-marinho Boi Matuto, que receberá os grupos populares em seu terreiro: a Casa da Rabeca do Brasil, localizada na Cidade Tabajara. O encontro continua no primeiro final de semana de janeiro, dias 4, 5 e 6, quando comemora-se o Dia de Reis. A festa de hoje começa a partir das 18h num outro importante espaço comandado por Mestre Salu, o Ilumiara Zumbi, também em Cidade Tabajara. É de lá que sairá o cortejo do boi de Santa Fé, do Maranhão. A vinda de um boi do Maranhão para incrementar a festa do cavalo-marinho sempre foi sonho do mestre Salu. O objetivo é mostrar as diferenças entre as duas tradições e ao mesmo tempo fazer um diálogo entre os dois modos de apresentar histórias sobre um personagem em comum das duas brincadeiras: o boi.
Além do boi do Maranhão, a festa na Ilumiara tem início com o pastoril religioso Tia Nininha, de Olinda. Depois vai ter apresentação da Ciranda Pernambucana de Itaquitinga, do mestre Biu Passinho também toca no Ilumiara Zumbi. O coco do mestre José Augusto, de Peixinhos, também participa da festa. Depois de algumas apresentações, o boi Santa Fé sai em cortejo pela rua Curupira, que dá acesso ao espaço Casa da Rabeca. No palco, apresentarão espetáculo de uma hora de duração. O espetáculo contará com a presença do boi de Nelson, do bairro de Caixa D'água, considerado pela família Salustiano como o único boi existente no grande Recife. Depois dos bois, têm início as apresentações dos cavalos-marinhos no terreiro. Os convidados deste noite são o cavalo-marinho Boi Brasileiro do Mestre Biu Roque e o cavalo-marinho Boi Chatim de Pedra de Fogo (PA).
Biu Roque é hoje um dos mais importantes toadeiros de cavalo-marinho. Pegou mais fama ainda, depois que se juntou ao grupo Fuloresta do Samba, do jovem mestre Siba Veloso. "Ele é um grande mestre, grande toadeiro da Zona da Mata, que se destaca hoje no nosso universo, muitos companheiros dele são falecidos, mas Biu Roque é um homem forte que leva essa banderia. Trabalha junto com a Fuloresta e não deixa suas raízes. Está sempre fazendo ensaios na sua residência", diz Pedro Salustiano, um dos coordenadores do encontro, responsável também pelo mais novo grupo de cavalo-marinho do Nordeste. Trata-se do cavalo marinho-mirim de Pedra de Fogo. Seus integrantes, que têm entre 14 e 24 anos, foram formados por Pedrinho, após uma oficina que durou quatro meses. "Eles me surpreenderam, são muito talentosos, confeccionaram sua própria fantasia e estão vindo com o maior prazer", diz o herdeiro de Salu, mestre na arte de "botar" personagens do cavalo-marinho.
Segundo Pedro, Salustiano não vai se apresentar no Natal com seu Boi Pintado, mas dará palhinha nas apresentações com Biu Roque e com mestre Araújo, do Boi Pedra de Fogo. "É um sonho de Salu há três anos trazer a cultura do Maranhão para cá, estamos distantes mas culturalmente nossas raízes são próximas, Salu quer receber os mestres e promover esta troca de informações", diz o filho, que está cuidadando da programação do final de semana de "reis". Segundo ele, é muito importante esta mostra para manutenção dos brinquedos populares. "O bumba-meu-boi de Nelson, grande mestre já falecido de Recife, está sendo comandado hoje pela viúva, é o único boi existente hoje no Grande Recife. Temos que apoiar, ele é da época do capitão Pereira. É preciso começar a olhar com boas intenções essas pessoas, senão se acaba", diz Pedrinho.
http://www.pernambuco.com/diario/2007/12/25/viver8_0.asp
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