Um terreno baldio incomoda muita gente

Moradores da rua Maria Cândida Correia, em Olinda, queimam o lixo todo dia para evitar o mau cheiro, mas a fumaça causa doenças. Foto: Alcione Ferreira/DP

Normalmente ninguém sabe quem é o dono. Ou até sabe, mas o proprietário não se responsabiliza. Ou então o dono da área até colabora, manda limpar regularmente, mas aí é a própria população que não ajuda e joga lixo no local. Não há um levantamento sobre o número de terrenos baldios na Região Metropolitana do Recife (RMR), mas as prefeituras admitem que o problema é generalizado. Quem mora numa rua ou bairro que tem um terreno abandonado reclama. "Estive observando nos arredores e constatei vários terrenos abandonados no bairro de Jardim Brasil I. Os terrenos estão acumulando lixo, ratos, baratas, mosquitos da dengue e, como alguns moradores me relataram, abrigo para ladrões. Um terreno enorme que achei foi na Rua Dom Sebastião Lemos, na Vila Popular. Segundo os vizinhos, vem gente de longe para jogar lixo no local. O dono já foi chamado atenção, mas não tomou nenhuma providência", relatou a internauta Estephania Evre no serviço Cidadão repórter.

"Na Rua Mato Grosso, quase de esquina com a Rua Garanhuns, no bairro de Jardim Brasil I, existem três terrenos, com as casas caindo aos pedaços, completamente abandonadas, cheios de mato e lixo. Fica perigoso para quem passa por ali, por causa dos ladrões", continua denunciando a cidadã. "Graças a esse acúmulo de lixo e água nos terrenos da Rua Mato Grosso, estou doente, com dengue. A gente faz denúncia, mas as autoridades não fazem nada. Não somos obrigados a conviver com isso", acrescenta outra internauta, identificada no fórum como Julismilie.

O Cidadão repórter foi lá conferir as denúncias e não teve dificuldade em encontrar os incomodados com o problema. Poucas ruas depois da Mato Grosso, um terreno baldio também tira o sossego da dona-de-casa Jorgelle Cristina. O lixo acumulado, inclusive com animais mortos, faz com que os moradores da Rua Maria Cândida Correia, na Vila Popular, queimem o material todos os dias. Um tormento para o filho de Jorgelle, o pequeno Carlos, de apenas 11 meses. "Já tive que levá-lo para a urgência mais de uma vez para fazer nebulização. Ele fica sem ar, tossindo muito. Se até os adultos têm problemas por causa da fumaça, imagine as crianças", conta a dona- de-casa. E essa não é única conseqüência da falta de educação da própria comunidade: por causa do lixo jogado no local, surgem baratas, ratos, escorpiões.

Assim como Carlos, Edna Cristina de Lima também já teve que ser socorrida para o hospital, mas por causa da picada de um escorpião. A casa dela fica ao lado do terreno baldio da Rua Maria Cândida Correia. Ela admite que o marido queima o lixo, mas essa seria a única alternativa. "A casa fica cheia de insetos, o cheiro é insuportável. A gente não tem o que fazer", explica. "Meus filhos também sofrem e são vítimas dos insetos que invadem a casa", conclui. De acordo com os próprios moradores, a coleta de lixo no bairro é regular. "O caminhão do lixo passa sempre. Só que as pessoas não se conscientizam que não podem jogar lixo na rua. Todos os dias a gente faz a queimada, mas sempre aparece mais. Não sabemos o que fazer", conta Edna.

Como proceder - A responsabilidade pela manutenção de um terreno privado é do proprietário. De acordo com o diretor de Controle Urbano de Olinda, Eduardo Monteiro, os moradores que estão sendo prejudicados pela falta de conservação do terreno devem fazer a denúncia à Secretaria de Planejamento do município. "A partir daí, localizamos o dono do terreno e fazemos a intimação para que ele tome as providências. Se o problema não for resolvido no prazo estipulado, o dono é autuado", explica. Em Olinda, a multa é de R$ 200. A denúncia também pode ser feita à Vigilância Sanitária da cidade. "Se o local está servindo como foco para dengue e causando doenças na comunidade, os moradores podem ligar para a Vigilância, que também intima o proprietário", explica o diretor. Já se o terreno está servindo como abrigo para bandidos e para o tráfico de drogas, a comunidade deve ligar para a polícia.

http://www.pernambuco.com/diario/2008/03/18/urbana9_0.asp