sexta-feira, 13 de junho de 2008
Diva cirandeira Lia lança CD novo nesta sexta
Até bem pouco tempo, Lia de Itamaracá era um mito no Rio de Janeiro. "Ela existe?", confessa ter questionado Maria José Alves da Silva Oliveira, a Zezé do Folclore, do laboratório de programa de culturas populares da UERJ, que registrou seu depoimento no encarte do segundo CD de Lia, Ciranda de Ritmos. Viabilizado graças a patrocínio da Petrobras, via Lei Rouanet, o álbum é lançado nesta sexta no Recife com show de Lia. A festa acontece no Nascedouro de Peixinhos, com abertura de Carlos Zens (diretor musical do álbum) e banda. Em seguida, a diva cirandeira se apresenta com seus convidados. Seu Bezerra, saxofonista com 90 anos que acompanha Lia há 35, será ao seu lado uma das figuras centrais do show. É que o produtor da artista, Beto Hees deu a idéia a Lia de homenagear Bezerra. Este terminou colocando seis composições suas, entre as quatorze do disco.
Beto Hees, que acompanha a artista há dez anos, disse que a intenção era fazer um disco que pudesse ser levado não só para ambientes de cultura popular, mas para teatros do Brasil e do mundo, por isso a diversidade de ritmos. Lia já era íntima deles. Sempre cantou cocos e maracatus em suas apresentações, mas somente agora o ouvinte terá o prazer de escutar a voz grave e rasgada de Lia na interpretação, não só de cirandas, mas de coco, maracatu, frevo, maxixe e modinha. A opção de Carlos Zens, que dirigiu o trabalho, foi buscar a originalidade dos ritmos, portanto, o que se ouve são arranjos honestos, de personalidade firme, que terminam imprimindo um estilo marcante ao trabalho. E, neste caso, o sax de Bezerra é o grande protagonista desta "diferenciação" nas músicas cantadas por Lia.
Há outras participações importantes, cada uma colaborando para dar um colorido particular ao repertório: as Filhas de Baracho (que fazem vocais, entre eles, o do maracatu de Capiba Verde mar de navegar), os percussionistas Viola, Mamão das Olinda e Seu Luiz Paixão, mestre rabequeiro de Aliança, no coco Meu barco velou (de seu Bezerra). Ademir Araújo fez o arranjo do frevo canção Recife, também de Bezerra. Músicos de Ademir fizeram floreios sutis de metais; e uma bateria, no compasso binário, deu o toque original à canção, interpretada com bom gosto por Lia. Quem se acostumou à voz da cirandeira na interpretação apenas do ritmo que lhe é peculiar, ficará surpreso por sua voz combinar com estes gêneros da música pernambucana.
E não são só as batidas, algumas canções têm um apelo pop raramente visto na música popular (vide A rolinha, de Selma do Coco). Neste, Lia canta a divertida A vizinha, um maxixe delicioso do paraense Osvaldo Oliveira. Numa mostra arrebatadora de que é cantora de mão cheia, Lia bota voz na modinha de viola brejeira Moreno dengoso (José Barbosa). Podia figurar em trilha de novela. É Lia pronta para ocupar os maiores teatros do Brasil, com o porte que tem, carregando uma mostra das mais verdadeiras da musicalidade pernambucana e nordestina. Para impressionar paulistas, cariocas e gringos.
"Existe sim, e lá estava em sala deum antiquário na rua do Lavradio como se fora uma peça rara daquela coleção: sorriso discreto e desconfiado, alta, uma deusa de ébano. Era sua primeira apresentação no Rio de Janeiro e a platéia aguardava com expectativa porque até aquele dia Lia de Itamaracá não passava de folclore para nós", continua Zezé do Folclore. Lia e sua ciranda, agora cocos, frevos e maracatus, ainda tem este caminho a percorrer: desfazer-se do mito e materializar-se como grande cantora do povo, viva, atuante (inclusive como merendeira de uma escola estadual, em Itamaracá, função que irá cumprir até aposentar-se ano que vem, ao completar 65 anos), guerreira.
Serviço
Lançamento do CD Ciranda de Ritmos - Lia de Itamaracá
Quando: Sexta-feira, às 21h
Onde: Nascedouro (Terminal de ônibus de Peixinhos, Recife)
Gratuito
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=2008612202623&assunto=76&onde=1
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Acesse: www.olindaurgente.com.br
no Portal O Nordeste.com: www.onordeste.com
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