sábado, 7 de junho de 2008
Sambada de coco se espalha no Guadalupe
Beth de Oxum diz que a cultura popular não vive mais o tempo de colher migalhas Foto: Alexandre Gondim/DP/D.A. Press
ANIVERSÁRIO // Público de mais de 10 mil pessoas é aguardado hoje na festa de comemoração de uma década do evento em Olinda
Aline Feitosa
Da equipe do Diario
Ano: 1998. A batucada que soava no Beco da Macambira, comunidade do Guadalupe, em Olinda, incomodava moradores dos arredores. Intolerância e preconceito às manifestações culturais focadas na matriz africana. Nos primeiros sábados do mês daquele ano, os remanescentes da família Barbosa começavam a resgatar a sambada de coco de seus antepassados, que durou mais de cinco décadas em Paratibe, Paulista, e ficou por mais de 40 anos com as alfaias da brincadeira caladas. Beth de Oxum, líder do movimento, iniciava ali uma caminhada comprida, de desafios e conquistas.
Hoje, sábado, 7 de junho de 2008. A sambada de coco completa dez anos. A data também marca um ano em que a festa foi transferia do Beco da Macambira para o Largo do Guadalupe. O motivo, muito simples: o beco ficou pequeno para a quantidade de gente que visita o evento e vai "sambar o coco". Mais de duas mil pessoas são esperadas para esta noite comemorativa, que aproveita para festejar São Pedro, padroeiro da manifestação popular do coco. Lá, em meio ao povo, mestres costumeiros, anônimos e famosos da cultura popular de Olinda marcarão presença na roda do Coco de Umbigada, espaço garantido onde podem mostrar suas músicas.
Mestres Zeca do Rolete, Pombo Roxo, Dona Selma do Coco, Aurinha do Coco, Dona Célia, Ana Lúcia do Amaro Branco e Mãe Lúcia de Oyá pegam no microfone e no pandeiro para entoar ladainhas. O festejo tem início às 21h, com o Cineclube que exibe filmes em telão armado no local. Logo após, entram em cena as crianças da comunidade (que são muitas!) para fazer o Coco de Umbigadinha. Já a sambada começa à meia-noite e segue até às 6h da matina.
Oficinas de dança, música e conhecimentos voltados à matriz africana fazem parte da rotina semanal dos jovens moradores da comunidade
Para Beth, o nome dessa trajetória de dez anos chama-se "empoderamento" da comunidade, palavra inexistente na língua portuguesa, retirada do inglês empowerment. O conceito, que vem sendo utilizado por diversas camadas de movimentos sociais, significa "dar poder ou autoridade, obter mais controle sobre a própria vida ou sobre uma situação em que vivem as pessoas". "Percebemos, hoje, que a comunidade do Guadalupe se protagonizou com a cultura popular. Nosso trabalho resgatou a auto-estima", reflete Beth de Oxum, que já não caminha mais sozinha em seus ideais.
Em 2004, no primeiro edital do programa federal Cultura Viva para Pontos de cultura, o movimento teve projeto aprovado. Atualmente, o ponto Coco de Umbigada é referenciado pelo Ministério da Cultura e organizações socioculturais brasileiras pelos projetos desenvolvidos. O grupo também foi contemplado pelos programas Ação Griô (com trabalho de resgate das tradições orais), Escola Viva e ainda pelo Ponto G-Sac, do Ministério das Comunicações. A pequena casa do Beco da Macambira conta com um telecentro onde jovens da comunidade são favorecidos pela inclusão digital. Oficinas de dança, música e repasse de conhecimentos voltados à matriz africana fazem parte da rotina semanal. A rádio comunitária Amnésia, com frequência FM que alcança todo o Sítio Histórico de Olinda, tem programação montada pela própria comunidade.
"A culturapopular não vive mais naquele tempo de colher migalhas. Vivemos uma logística de apropriação da tecnologia por nós mesmos. A lógica macro-excludente da grande indústria cultural foi quebrada", comemora Beth, que até o final do ano deve lançar cinco CDs produzidos e gravados no próprio estúdio do ponto: Coco de Umbigada e Coco de Umbigadinha, Mestre Pombo Roxo, Mestre Zeca do Rolete, Mãe Lúcia de Oyá com o afoxé Povo dos Ventos e Índio Matinho.
Serviço
Sambada de Coco do Guadalupe - 10 anos
Quando: Hoje, a partir das 21h
Onde: Lago do Guadalupe, Olinda
Quanto: Gratuito
Atrações: Cineclube (21h), Coco de Umbigadinha (22h) e Sambada de Coco (0h às 6h)
Informações: 3439-6475
http://www.pernambuco.com/diario/2008/06/07/viver1_0.asp
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