No meio de uma rua cheia de buracos, por trás de um muro sem identificação, fica a Escola Estadual Cônego Jonas Taurino, em Aguazinha, bairro de Olinda. Apesar da dura realidade que os cerca, os professores da instituição estão determinados em mudar o quadro e, para dar mais cores e vida ao futuro, usam o universo artístico.
Na escola, os estudantes também são atores e atrizes e interpretam figuras do mundo de Ariano Suassuna. A peça “O rico avarento”, que conta a história de um homem rico que não quer ajudar os pobres e, por isso, é arrastado para o inferno, também é um retrato da dura realidade dos moradores. “A maioria das peças que a gente apresenta é assim, mostrando a vida rela do povo, principalmente, do rico que não quer saber do pobre”, desabafa Eliane Flor da Silva.
O trabalho de interpretação também dá lições para a vida dos alunos. “A gente era mais agitada, ficou mais calma. Eu mesmo morria de vergonha, mas na hora sai tudo direitinho”, anima-se Eliane.
E aqueles que não querem interpretar também têm a oportunidade de cantar com o coral organizado pelo professor de Português Anderson Ferreira. “Não sou professor de teatro, não sei nem para onde vai um coral, mas eles aí começaram a me incentivar e eu aprendi muito com eles também”, confessa.
Mas a maior compensação, segundo o educador, está na transformação dos alunos. “Quando uma mãe veio me perguntar: ‘O que fizeram com o meu filho que mudaram o comportamento dele?’ aí eu percebi que, realmente, a coisa fazia efeito”, comemora Anderson.
Para participar das atividades, é exigida boas notas nas matérias escolares. “Eu sempre digo que... vale a pena”, embarga a voz emocionada. A diretora da escola, Mônica Pedrosa, também sonha com o a transformação. “O pessoal fala de escola pública. Mas a escola pública quando é feito com amor, ela faz o sucesso, ela constrói, ela tira esses meninos da marginalidade”, afirma.
“A satisfação de um professor é ver um aluno crescer e vencer na vida”, conta feliz o professor que já viu um de seus alunos ser transformado incorporado ao Exército. “Antes ele era nosso calo e ele se transformou por completo”, comemora.
GRANDES MÚSICOS NASCEM NA ESCOLA
Da Escola Estadual Cônego Jonas Taurino também sai músicos promissores que formam a Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco, fundada há 30 anos em Aguazinha, toca músicas internacional, popular brasileira e regional.
O mais novo integrante da turma é Pablo Henrique do Nascimento, de 11 anos, que cursa a 6ª série. Há seis meses, ele toca trompete e diz como se sente. “Pela primeira vez eu me sentir orgulhoso. Meu coração dispara quando eu tô tocando trompete”, diz.
O professor de música do menino, Erivaldo de Melo, fala sobre o futuro do pequeno músico. “Ele tem um grande futuro, tem muito talento, pega as coisas fácil. Ele tem tudo nas mãos dele, eu já falei para os pais dele”, afirma.
Foi desta mesma escola que saiu o músico Israel de França que, hoje, vive na Europa. O maestro da banda, Evanildo Maia, conta como se sente. “Eu me sinto honrado, satisfeitíssimo. Tem saído vários profissionais que estão empregados como sargentos, alguns nas bandas sinfônicas não só de Pernambuco, mas de outros estados, inclusive nós temos gente na Suíça, na França, na Alemanha que passaram pela escola.”
A diretora da escola, Mônica Pedrosa, agradece a oportunidade de ver algo bom de Aguazinha nos meios de comunicação. “A gente só aparece nas reportagens com coisas ruins, hoje, estão reconhecendo o trabalho que é feito na escola e isso pra gente é o mais importante”, diz.
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