sábado, 23 de fevereiro de 2008

Gente de Olinda: Erasto tira as loas do baú


Percussão: Compositor pernambucano resgata músicas inéditas de maracatu de baque virado, criadas por ele na década de 80 e agora reunidas no CD Estrela brilhante

Michelle de Assumpção
Da equipe do Diario

O maracatu está na base de formação dos músicos da família Vasconcelos. Assim como Naná, Erasto também veio conhecer o baque virado, precisamente o do maracatu Estrela Brilhante, que tinha entre os seus batuqueiros o cultuado Veludinho. Erasto foi apresentado a Veludinho por sua mãe, ainda garoto, no bairro de Sítio Novo. Chegou a assistir diversos ensaios no qual Veludinho empunhava as baquetas e extraía o som grave, ritmado, que influenciaria definitivamente a sua carreira. Nos anos 70, o músico em suas andanças pelo Brasil e pelo mundo, se fazia acompanhar por um tambor. Tempos depois, com a residência fixada no Sítio Histórico de Olinda, Erasto começou a compor. As crianças - filhos e filhas de amigos próximos - foram a inspiração para as primeiras composições que foram surgindo.

Tiara, Kíria, Uriá, Janaína, Raíssa, Cumba, Júlia, Dandara e Odara, Anair, Ginga (sua filha), Iam, Camila e Maria Hilda deram seus nomes a diversos baques. Erasto, em 1983, estava prontopara registrá-los todos. Ele praticamente inaugurou o estúdio do Conservatório Pernambucano de Música. Para gravar a base das novas loas, convidou várias bandas do cenário musical recifense, tais como as extintas Coração Tribal e Touché, além do Maracatu Nação Pernambuco e Orquestra de Ademir Araújo. Músicos como o violoncelista João Carlos, Nilton Rangel e Paulo Rafael também deram suas contribuições. Disco pronto, precisava somente ser lançado. O fonograma chegou a ser levado para o Rio de Janeiro, onde seria editado por um selo ligado ao mineiro Milton Nascimento. Não era o momento, acredita Erasto. Milton adoeceu, e todo material foi devolvido ao compositor, que manteve o fonograma cuidadosamente guardado até bem pouco tempo.

A produtora olindense, amiga e backing vocal da banda de Erasto, Isa Melo inscreveu o projeto no Funcultura. Com o dinheiro, finalmente o Brasil poderá conhecer as novas, quer dizer, antigas, melhor, inéditas loas de maracatu de baque virado. Erasto lança Estrela brilhante como um disco de carreira que, apesar dos mais de vinte anos que o separam do momento em que foi concebido, não poderia soar mais atual. "Eu adoro esse disco, eu guardei tudo, a arte de Maurício Silva, que está na França, e todos diziam que era feia, mas eu falava, 'eu quero'. O material estava bem guarado, a qualidade é excelente", derrama-se o músico em auto-elogios. Para Erasto, o momento é excelente para o lançamento de Estrela brilhante justamente por que a cena dos maracatus de baque virado, na sua opinião, carecem de músicas novas.

"Isso é uma crítica mesmo, eu vou à noite dos tambores silenciosos e só escuto a mesma coisa. Esse disco é para exercitar dessa forma, para fazer os novos grupos de maracatu cantarem essas loas, eles têm muito pouca música", enfatiza Erasto. Para os shows, que a partir de agora serão em cima do novo repertório, o percussionista já tem uma nova banda montada. Chama-se Oficina Pentã, e está formada "por oito moças e dois rapazes", que ele faz questão de credenciar. O lançamento de Estrela brilhante deve acontecer no dia 6 de março, na loja Passa Disco. No palco, Erasto será acompanhado por Joana, Arlene, Monique e Sheila (vocais), Ganga (caixa), Bruna e Samantha (alfaias), Malena (agogô), Viola e Cássio (percussionistas gerais). O CD, segundo ele, mesmo antes do lançamento, está vendendo super bem entre os amigos que já sabem de sua existência. O álbum está à venda nas lojas Passa Disco, Oficina da Música e Livraria Cultura.

http://www.pernambuco.com/diario/2008/02/23/viver10_0.asp

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