Deu no G1 Pernambuco:
Quando a artista de rua Gabriela Stephanie, de 18 anos, ficou grávida do terceiro filho, ela jamais imaginou que o momento do parto destoaria totalmente das duas experiências anteriores. Na primeira vez em que deu à luz, aos 14 anos, a principal lembrança é a dor que antecedeu a chegada do primogênito, Davi Lucas. Na segunda vez, aos 16, a filha Hadassa teve pressa para nascer e veio ao mundo na ambulância, a caminho do hospital. No parto mais recente, no dia 7 de maio, a filha caçula, Rebecca, chegou após um dueto feito pela mãe e pelo médico Roberto Santa Cruz na sala de pré-parto do hospital, localizado em Olinda, ao som dos acordes alegres do ukulele do pediatra.
Inesperada, a situação trouxe à jovem uma nova percepção sobre a maternidade e ao médico uma oportunidade de tornar ainda mais belo o momento do primeiro contato entre mãe e filha. “Ela não nasceu chorando, nasceu cantando”, brinca a mãe, que ganha a vida fazendo apresentações musicais com o marido, Júnior Maurício, nos ônibus e vagões de metrô do Grande Recife. Os shows nos coletivos duraram até a 41ª semana de gestação. “Trabalhei até o último momento, porque parei numa sexta e ela nasceu dois dias depois”, explica a jovem, cuja renda vem unicamente das performances no transporte público.
Enquanto se preparava pela terceira vez para sentir as contrações que precedem o parto, ela ouviu o som de um instrumento familiar e, curiosa, decidiu procurar o músico. “Quando ela perguntou ‘isso é um ukulele?’, eu me surpreendi, porque praticamente todo mundo acha que é um cavaquinho ou um violão menor. Terminamos cantando uma música e ela até me deu uma bronca porque eu errei o final”, brinca Roberto.
Recém-formado, ele aproveita as brechas entre os plantões nas quatro unidades de saúde em que atua para treinar as lições aprendidas nas aulas de músicas, iniciadas em dezembro de 2016. “Como estou aprendendo agora, não tinha outro jeito de treinar se não fosse levando para os hospitais que eu dou plantão. O ukelele anda comigo em todo canto que vou”, conta. O instrumento é usado nas alas de pediatria, mas também ganhou espaço no setor de obstetrícia de algumas das unidades em que ele trabalha e conquistou as equipes que buscam proporcionar a experiência do parto humanizado às mães.
A ideia de unir o hobby ao trabalho, segundo Roberto, surgiu de forma espontânea e tem tido a aprovação de pacientes e colegas de trabalho. “Quando eu comecei a levar o instrumento para os hospitais, vi que uma coisa ajudava a outra. Se eu via que aquela criança ou aquela grávida gostava da música, por que não continuar? Não foi uma ideia genial, só tentei juntar a música e o trabalho”, diz, exaltando a simplicidade da iniciativa, que, apesar de despretensiosa, foi capaz de encher Gabriela de coragem para dar conta de mais um filho.
“Não esperava que ela [a filha caçula] viesse, fiquei um pouco aflita pelas minhas condições, mas meu esposo me deu a maior força nessa gravidez. O dia do parto foi bem diferente do que eu esperava. Diferente para melhor. Como começou com música, eu fiquei um pouco mais relaxada. Quando as dores aumentaram, eu tive que me concentrar, mas não foi tanta dor como eu tinha sentido nos outros”, conta a mãe.
Gravado em vídeo, o dueto viralizou nas redes sociais e deixou Gabriela com a certeza de que a maternidade é uma dádiva. “Quando eu vi que as pessoas começaram a compartilhar, me dei conta de que eu não mudaria nada na minha vida como mãe. Cada nascimento foi especial”, diz, satisfeita pelos três filhos e ansiosa para que o trio cresça com o mesmo amor que ela tem pela música.
Assista aqui o vídeo direto no site do G1 Pernambuco
(Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)
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