sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Um santo em forma de boneco-gigante

Por Marieta Borges

Para quem não nasceu ou não conhece Olinda e Recife, imaginar que um padre, um bispo, um homem santo, pudesse um dia ser materializada em um boneco-gigante, pareceria – talvez – quase uma heresia... Para nós, não! Absolutamente, não!

É aqui a “pátria dos bonecos”, tanto os bonecos pequenos, aos quais chamamos MAMULENGOS (de “mão molenga”, por ser manipulado vestido como luva nas mãos que se agitam, dando vida aos pequenos “seres”), como aos bonecos-gigantes, enormes, carregados sobre os ombros de homens experientes, que com eles frevam, dançam, seguem cortejos pelas ruas, ladeiras e becos da cidade alta, em Olinda, ou nas ruas do Recife antigo.

Bonecos são sempre bem-vindos! Crianças e adultos deixam aflorar o lúdico que guardam no coração, para enternecerem-se diante de pequenos títeres/fantoches, que criam vida através dos seus manipuladores, ou postando-se diante de um gigantão, com três metros de altura, saracoteando para lá e para cá, destravando a tristeza e reacendendo a alegria.

Essa aparição inusitada aconteceu neste 30 de dezembro, pelo milagre da tradição popular e pela ousadia de abnegados “helderólogos”, que quiseram dar “vida” ao boneco-gigante HELDER CAMARA, de mãos para o alto, como a pedir por nós todos que por aqui ficamos, saudosos de sua presença material, de sua alegria carnavalesca (típica de quem nasceu num domingo de Carnaval, há quase cem anos).

O Dom Helder-boneco, criado pelas mãos de Sílvio Botelho (um dos mais famosos bonequeiros de Olinda) veio para cumprir a tradição que tem sido mantida, e que transforma em gigantes as figuras que o povo amou, qualquer que tenha sido a razão do afeto despertado... O Dom Helder-boneco veio juntar-se ao cortejo onde já estão o mestre Gilberto Freyre, o compositor Capiba, o Batata (do Bacalhau do Batata), o sociólogo Betinho e tantas outras pessoas... E sua concretização foi um sonho de Frei Aloisio Fragoso e do Grupo "Mulheres contra o Desemprego".

É assim em Pernambuco. Os que partem, de certa forma permanecem conosco em forma de boneco-gigante, povoando os espaços com sua onipresença, sempre com o rosto alegre de quem viveu na paz dos justos e hoje contemplam a legião dos seguidores deixados.

Nosso Dom estará conosco, para sempre, em nossos corações. E, para diminuir um pouco essa saudade, estará conosco agora sob a forma, volume e graça de um boneco, como manda a tradição pernambucana! Viva!



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