Ciência, tecnologia e meio ambiente
Clóvis Cavalcanti // Economista
clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
A curiosa composição do secretariado do governo pernambucano não inclui uma Secretaria de Meio Ambiente. O assunto é contido dentro da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma). Vejam bem: ciência, tecnologia - e meio ambiente. Parece até que os problemas ambientais não sugerem a necessidade de serem tratados em Pernambuco com a atenção que demandam. Assim, o secretário recém-substituído - Aluisio Monteiro - não tem vínculos com a pesquisa em ecologia, em questões sócio-ambientais, em mudança climática, em desertificação etc. É um doutor em economia, competente, mas sem nada publicado ou objeto de estudo em seu curriculum que o qualifique para tratar da realidade ecológica. Pela formação acadêmica que possui, qualifica-se para dirigir uma pasta de ciência e tecnologia. Nem mesmo isso possui quem assumiu seu lugar: a ex-prefeita de Olinda, Luciana Santos (2001-2009). Não se trata de avaliar o desempenho dela na chefia do executivo olindense: teve altos e baixos. A questão é que, no quesito Sectma, a trajetória de Luciana nada oferece de alentador. Ela teve o mérito de haver colocado o atual ministro de Ciência e Tecnologia (antigo professor seu), Sérgio Rezende, em seu secretariado. Sérgio ficou no cargo dois anos e saiu sem realizar coisas que prometera fazer.
No quesito meio ambiente, é pior o desempenho de Luciana. Pode-se, de boa-fé, dizer que Olinda serve de exemplo em qualquer coisa que seja no plano da ecologia? Seu jardim botânico do Horto Del Rey chegou a ser ameaçado na gestão de Luciana por um projeto esdrúxulo de construção de mirante, com teleférico, no Alto da Sé (a ameaça continua). O adro do convento de São Francisco, bela obra barroca brasileira, foi simplesmente destruído, colocando-se em seu lugar uma praça sem qualquer encanto - e que dificulta a passagem de pessoas e carros. Lugar nobre da cidade transformou-se num logradouro medíocre, apesar dos esforços de quem vive nas redondezas, como o agradável Hotel 7 Colinas, para ajudar a conservar a joia de Olinda. A omissão completa dos poderes municipais da cidade (é certo que, já agora, na administração de seu sucessor, um prefeito ausente) e do estado de Pernambuco com respeito à destruição perpetrada pelo Cirque du Soleil no parque Memorial Arcoverde mostra bem o perigo em que se acha a gestão ambiental em Pernambuco.
Querer atribuir qualificações a Luciana - pessoa amável, simples e atenciosa - para chefiar a Sectma mostra que, em Pernambuco, ainda se adotam práticas que não refletem o compromisso de defesa de valores maiores. Um estado que tem Ariano Suassuna como secretário de Cultura, ator de importância indiscutível na defesa de valores da identidade brasileira e nordestina, assume posição que nega compromissos como os da escolha de Ariano. No mês de julho passado, estive em Manaus para a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Costumo ir a esse fórum e nunca vi Luciana Santos por lá. Ela não tem familiaridade com a comunidade científica (e menos ainda com a ambientalista). É amiga e ex-aluna de Sérgio Rezende (físico de renome mundial). Essa é sua credencial? Enquanto isso, o Amazonas, governado desde 2003 por um Eduardo (Braga) do mesmo partido de Eduardo Campos (PSB), dá exemplo notável nesse âmbito. Tem uma doutora em serviços ambientais como secretária do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Nádia D'Ávila Ferreira. E como secretário de Ciência e Tecnologia, um doutor com especialidade em desenvolvimento científico, José Aldemir de Oliveira. Ambos estavam na reunião da SBPC. Como conferencistas substantivos, chefiando duas secretarias que formam uma só em Pernambuco. Estamos muito mal das pernas.
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