quarta-feira, 18 de março de 2009

Milícia é desestruturada em Rio Doce

Diego Nigro

Márcio Wanderley explicou que grupo assassinava criminosos rivais, além de extorquir comerciantes e moradores

Vinte e oito pessoas, dentre elas um ex-vereador de Olinda e policial militar aposentado, foram presas durante a Operação Êxodo 7, deflagrada pela Polícia Federal (PF), na manhã de ontem. Oo ex-parlamentar Fernando Manoel da Silva, o Doca, apontado como líder da facção, foi capturado em sua residência, no bairro de Jardim Atlântico. A Polícia Federal aponta o político como chefe de uma milícia que controlava o bairro de Rio Doce, em Olinda. Segundo a PF, a organização criminosa contava com a participação de dois policiais civis da Delegacia de Rio Doce e policiais militares (batalhão não informado), além de traficantes, vigilantes, assaltantes e até detentos do Sistema Prisional do Estado. Eles controlavam principalmente a área da feira do bairro. Os presos foram encaminhados à Superintendência da Polícia Federal, situada no Cais do Apolo, no Recife.

Foram expedidos pela 3ª Vara Criminal de Olinda 26 mandados de prisão - apenas um não foi cumprido -, 28 mandados de busca e apreensão e mais seis mandados de condução coercitiva de testemunhas. Outros três presos foram autuados em flagrante. A Polícia Federal iniciou as investigações da Operação Êxodo 7 em novembro do ano passado, após receber denúncias da existência de um grupo de extermínio em Rio Doce. Além dos presos, foram apreendidas nove armas de fogo, duas motos, maconha e crack. O grupo vai responder pelos crimes de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, tráfico de armas, concussão e corrupção ativa e passiva, além de homicídio qualificado.

O delegado Márcio Tenório Wanderley, coodenador da operação, explicou em entrevista coletiva, que o grupo assassinava criminosos rivais e desafetos, além de extorquir comerciantes e moradores de Rio Doce. “Durante as investigações confirmamos além dos homicídios, a existência de uma milícia. Pelo menos três pessoas foram assassinadas e outras 16 mortes estão sendo investigadas. Além disso, comerciantes que aderiam ao serviço de proteção prestado por eles não eram assaltados. Os demais sofriam por não aderirem”. Os sete detentos do Sistema Prisional - cinco do Presídio de Igarassu, um do Aníbal Bruno e outra da Colônia Penal Feminina do Recife - foram interrogados nas próprias unidades prisionais.

A Polícia Federal contou com o apoio da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco durante as investigações e deflagração da investida de ontem. “Essa atuação integrada não só com as polícias estaduais, como também com órgãos federais, faz parte do Pacto Pela Vida. A troca de informações entre SDS e PF foi muito importante para a prisão de 95% dos alvos”, destacou o secretário de Defesa Social, Servilho Paiva. Ao todo a operação contou com a participação de 140 policiais federais, sete policiais civis do Grupo de Operações Especiais (GOE) e 14 policiais militares da Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe).

ÊXODO
O nome da operação, Êxodo 7, faz alusão à passagem bíblica constante do capítulo 7 do livro de Êxodo, que narra que o Egito é assolado por uma praga em que as águas de seu principal rio, o Nilo (“Rio Doce”), são transformadas em sangue.

Bando agia na feira do bairro

Os quatro meses de investigações levaram a Polícia Federal a definir e apontar a participação de cada um dos 28 presos durante a Operação Êxodo 7. Segundo o órgão federal, o ex-vereador Fernando Manoel da Silva, o Doca, era quem comandava as ações da milícia. Segundo ele, uma empresa clandestina de segurança foi montada para proteger comerciantes e moradores do bairro de Rio Doce. Os policiais civis são suspeitos pelo crime de tráfico de influência. Os PMs, por sua vez, davam cobertura e supria os alvos com informações sobre as investigações. Os demais eram traficantes, homicidas, seguranças e assaltantes.

O delegado Márcio Tenório Wanderley explicou que o grupo atuava na área da feira de Rio Doce há mais de dez anos. “O ex-vereador mandava o que era ou não para ser feito. Determinava a ação de cada um dos envolvidos, que extorquiam semanalmente comerciantes da feira de Rio Doce. A infiltração dos agentes públicos era da seguinte forma: os policiais civis, caso recebessem na delegacia, um preso que fizesse parte da milícia, o liberava após o pagamento de propina. Os policiais militares vazavam informações privilegiadas aos investigados da operação. As mulheres atuavam basicamente no tráfico de drogas”, detalhou.

Mesmo com a prisão de tanta gente, Wanderley acredita que existam mais pessoas envolvidas no grupo criminoso. “Todos que foram presos são considerados os mais atuantes do grupo. Entraremos na fase de depoimentos. Vamos chamar os comerciantes extorquidos para saber mais detalhes. Certamente acharemos mais pessoas envolvidas”, completou o delegado.


Folha de Pernambuco

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