Vitrine para a poesia popular

Fenapop leva à Praça do Carmo, em Olinda, manifestações da cultura nordestina, como literatura de cordel, cantoria, artesanato e recital poético

Rafael Dias
Especial para o Diario

A poesia popular nordestina, propagada pelo trabalho de resistência dos cantadores e declamadores que registram o cotidiano com bom humor e uma dose de crítica social, ganha mais uma vitrine no estado. De hoje a domingo, será a realizada a primeira edição da Fenapop - Feira Nacional de Poesia Popular, evento que promete reunir, durante três dias, uma miscelânea de manifestações da cultura popular, com recitais, embolada, literatura de cordel, cantoria de viola e exposições de artesanato e música, além de um show de forró. O local que abriga as atividades é a Praça do Carmo, em Olinda, que receberá 30 atrações de acesso gratuito à população.

O ciclo de apresentações será aberto hoje à noite, sempre a partir das 19h. Sobem ao palco a dupla pernambucana de emboladores Rouxinol e Patativa, o contador de causos Zelito Nunes, os repentistas Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa (uma das mais antigas duplas no estado, juntos há mais de 20 anos), o declamador paraibano Chico Pedrosae João Paraibano e Sebastião Dias. Amanhã, o destaque será a apresentação da Orquestra Sanfônica de Aracaju, formada por 25 sanfoneiros, além de três percussionistas e um baixista. Com uma composição básica dos tradicionais trios de forró (sanfona, triângulo e zabumba), a orquestra toca, às 21h, um repertório que passeia com a mesma facilidade pelo baião, bossa nova e choro.


Poeta Jessier Quirino Foto: Arquivo/DP
Ainda no sábado, haverá performances de poesia popular feita por mulheres, com destaque para Vassula, uma declamadora de apenas 12 anos, natural de Caruaru, e também show de repentistas consagrados como Ivanildo Vila Nova, um dos mais antigos em atividade, que completa 45 anos de carreira em 2008, e Geraldo Amâncio, considerado um dos maiores nomes do repente do País. No domingo, apresentam-se o cantador pernambucano, residente em João Pessoa, Oliveira de Panelas e o poeta popular Jessier Quirino, entre outros. Além da programação oficial, o evento também será aberto à participação espontânea de poeta amadores com a realização do projetoCoreto de poesia, que dedicará meia hora no sábado e domingo aos novos talentos.

Rivalidade - A Fenapop é realizada pela Pentagrama Produções, de Ângelo Filizola, em parceria com Daniel Bueno Produções e Prefeitura de Olinda, com apoio da Petrobras e Fundarpe/Governo do Estado. Daniel Bueno, um dos produtores, é o mesmo que esteve à frente das últimas seis edições do Desafio Nordestino de Cantadores, patrocinada pelo Governo do Estado. Com a nova gestão de Eduardo Campos, Bueno foi substituído pelo organizador Rogério Menezes. Segundo Bueno, a intenção não é a de rivalizar. "Quanto mais eventos houver, melhor", refuta o produtor, que faz questão, porém, de frisar a individualidade do novo projeto. "A nossa é uma feira mais abrangente, com livros, discos e DVDs, e não tem caráter competitivo", diz.

Ivanildo Vila Nova elogia a criação de mais um evento de poesia popular, lembrando que a praça do Carmo já serviu de palco, nas década de 70 e 80, para o Torneio de Cantadores de Olinda, em que os poetas defendiama liberdade de expressão à época da opressão do regime militar. "O momento é outro, mas permance o engajamento político. O local não poderia ter sido melhor escolhido", opina.