segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Viva J. Michiles. Esse é bom demais!


Olinda é parte do cancioneiro de J. Michiles que faz aniversário hoje

Quem não conhece os imortais sucessos de frevo que fazem o Carnaval do Recife e Olinda: "Bom Demais", "Me Segura Senão eu Caio", "Diabo Louro", "Fazendo Fumaça", "Roda e Avisa"...? J. Michiles é o responsável pelas letras e melodias dessas famosas canções. Desde os 12 anos de idade ele compõe frevos. Mas não é só de frevo que J. Michiles vive. Já criou consagradas letras de maracatu, coco, forró e famosos jingles para campanhas publicitárias e políticas.

Formação

Graduado em História pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), chegou a lecionar durante um ano na Rede Estadual. Fez Desenho na Escola Industrial, onde estudou desenho, pintura e modelagem. Também ensinou no Colégio Estadual Rodolfo Aureliano, em Olinda, por 10 anos. Paralelamente aos seus trabalhos como professor, fazia músicas. Finalmente, em 1991 ele decidiu se dedicar apenas à música, o que faz até hoje. Sem dúvida J. Michiles é um dos mais importantes compositores de frevo da atualidade. Ao longo de sua carreira contabiliza mais de 50 sucessos gravados. O mais incrível é que todo esse talento é nato, já que nunca estudou música.

Influências

Michiles aprendeu a gostar de frevo ainda menino. Ouvia Capiba, José Menezes, Luís Bandeira e outros compositores famosos. No entanto, ele considera que a música sempre esteve no seu sangue, já que é Sobrinho de Orlando Dias, cantor bastante conhecido nos idos dos anos 50. Uma passagem bem marcada na memória do compositor foi quando, aos sete anos, ouviu Carlos Gardel cantando uma música de Capiba. Ele conta que naquela época ouvia-se muito Levino, Zumba, Capiba, Caimelo.

Sucesso

A primeira música criada por Michiles foi um bolero. "Você Me Maltratou" foi interpretada por Victor Bacelar em 1962. O primeiro sinal de que ele se tornaria um grande sucesso aconteceu quando ainda tinha 16 anos. A versão para a música dos Beatles, I Wanna Hold Your Hand se chamou "Não Quero que Você Chore" e foi gravada, com grande sucesso, pelos Golden Boys. Em 1966, aos 23 anos, recebeu o prêmio no Festival Uma Canção para o Recife. Michiles foi o grande vencedor com uma marcha-de-bloco, chamada "Recife Manhã de Sol", interpretada por Marcos Aguiar. O álbum, um dos mais vendidos daquele ano, foi lançado pela Rozemblitz, O festival foi o grande salto na carreira do compositor, que concorreu com personalidades como Capiba, Ariano Suassuna e Nelson Ferreira. A partir daí, o artista começou a participar dos concursos de música promovidos pela Rádio Clube, TV Tupi e Canal 2 (hoje TV Jornal).

Frevo

Foi em 1986, com a música "Bom Demais", gravada por Alceu Valença, que seu nome virou sinônimo de frevo. No ano seguinte, também interpretada por Alceu, a canção "Me Segura Senão Eu Caio" explodiu nas ladeiras de Olinda e foi imortalizada como hit obrigatório nas festas do rei Momo. O ano seguinte foi a vez do frevo "Fazendo Fumaça" ecoar nos quatro cantos do Carnaval pernambucano, o qual gravou com Fafá de Belém. Em 1993 ele compôs o sucesso "Diabo Louro", gravado por Almir Rouche no mesmo ano. Dois anos mais tarde o sucesso explodiu e ganhou o status de música do Carnaval, na voz de Alceu Valença. Apesar de suas letras serem mais conhecidas na voz de Alceu Valença, Michiles emprestou suas canções a artistas como Fafá de Belém (Fazendo Fumaça, Forró Fogoso e Negue), André Rio (Queimando a Massa e Babado da Morena), Claudionor Germano (Queimando a Massa), Banda Pingüim (Queimando a Massa), Versão Brasileira (Perna Pra Que Te Quero), Nádia Maia (Espelho Doido), Novinho da Paraíba (Forró Fogoso) e Coral do Bloco da Saudade (Sonhos de Pierrô, Obrigado Criança e Bloco da Saudade), entre outros. Outro grande sucesso foi a música "Roda e Avisa", homenagem ao Chacrinha, música que compôs junto com Edson Rodrigues.

Forró e cia.

Consagrado como frevista de carteirinha, Michiles também possui uma veia em diversos outros ritmos, principalmente o Forró. "Forró Folgoso" foi gravado por Novinho da Paraíba e Fafá de Belém. "Estrela Gonzaga" foi interpretada por Domiguinhos, que junto a Marrom (Nação Brasileira) gravou o forró "Acorda Povo". Compôs o maracatu "Recife Nagô", gravado por Amelinha e Asas da América, em 98. O Coco "Swing Naná" foi criado em homenagem a Naná Vasconcelos. A música foi gravada pela banda baiana Kissukila em 2002 e por Aurinha do Coco em 2003.

Jingle

"Acorda Povo que São João Chegou./ No Reciforró, a festa começou./ Vamos botar fogo na boca desse balão/, que o Reciforró é de São Pedro e São João". Quem não conhece esse inesquecível jingle, tema do São João da cidade do Recife, cantada na voz de Dominguinhos? Uma verdadeira fábrica de canções, Michiles também empresta seu talento na composição de jingles para campanhas publicitárias. Pão Plus Vita, Pitú, Rum Montila, Café Royal são algumas das marcas que foram divulgadas com letras de J. Michiles. Também criou diversos jingles para campanhas políticas, como a do Governador Jarbas Vasconcelos. Seu último trabalho foi o frevo que vai ser o jingle da campanha de Cadoca. J. Michiles começou a trabalhar com publicidade ainda menino, mas no início ele desenhava. No entanto, o talento para compor aflorou em seguida e logo vieram as primeiras musiquinhas.

Livro

De carnavalesco a escritor. J. Michiles escreveu e publicou seu primeiro livro: Cercas e Quintais. O livro conta a história de um Brasil entre ditaduras. A queda do Estado Novo com o fim da Segunda Guerra Mundial em 45 e o golpe militar de 64, e vai até a década de 70, em plena repressão. Dentro desse segmento da história existe uma contexto musical, carnavalesco, que é o mote do livro. O Brasil dos bangalôs e dos mucambos. Ele faz um resgate da vida social, política e musical do país durante esse período. Cercas e Quintais foi publicado em dezembro de 2002 pela Editora Universitária.

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