
Até bem pouco tempo, Lia de Itamaracá era um mito no Rio de Janeiro. "Ela existe?", confessa ter questionado Maria José Alves da Silva Oliveira, a Zezé do Folclore, do laboratório de programa de culturas populares da UERJ, que registrou seu depoimento no encarte do segundo CD de Lia, Ciranda de Ritmos. Viabilizado graças a patrocínio da Petrobras, via Lei Rouanet, o álbum é lançado nesta sexta no Recife com show de Lia. A festa acontece no Nascedouro de Peixinhos, com abertura de Carlos Zens (diretor musical do álbum) e banda. Em seguida, a diva cirandeira se apresenta com seus convidados. Seu Bezerra, saxofonista com 90 anos que acompanha Lia há 35, será ao seu lado uma das figuras centrais do show. É que o produtor da artista, Beto Hees deu a idéia a Lia de homenagear Bezerra. Este terminou colocando seis composições suas, entre as quatorze do disco.
Beto Hees, que acompanha a artista há dez anos, disse que a intenção era fazer um disco que pudesse ser levado não só para ambientes de cultura popular, mas para teatros do Brasil e do mundo, por isso a diversidade de ritmos. Lia já era íntima deles. Sempre cantou cocos e maracatus em suas apresentações, mas somente agora o ouvinte terá o prazer de escutar a voz grave e rasgada de Lia na interpretação, não só de cirandas, mas de coco, maracatu, frevo, maxixe e modinha. A opção de Carlos Zens, que dirigiu o trabalho, foi buscar a originalidade dos ritmos, portanto, o que se ouve são arranjos honestos, de personalidade firme, que terminam imprimindo um estilo marcante ao trabalho. E, neste caso, o sax de Bezerra é o grande protagonista desta "diferenciação" nas músicas cantadas por Lia.
Há outras participações importantes, cada uma colaborando para dar um colorido particular ao repertório: as Filhas de Baracho (que fazem vocais, entre eles, o do maracatu de Capiba Verde mar de navegar), os percussionistas Viola, Mamão das Olinda e Seu Luiz Paixão, mestre rabequeiro de Aliança, no coco Meu barco velou (de seu Bezerra). Ademir Araújo fez o arranjo do frevo canção Recife, também de Bezerra. Músicos de Ademir fizeram floreios sutis de metais; e uma bateria, no compasso binário, deu o toque original à canção, interpretada com bom gosto por Lia. Quem se acostumou à voz da cirandeira na interpretação apenas do ritmo que lhe é peculiar, ficará surpreso por sua voz combinar com estes gêneros da música pernambucana.
E não são só as batidas, algumas canções têm um apelo pop raramente visto na música popular (vide A rolinha, de Selma do Coco). Neste, Lia canta a divertida A vizinha, um maxixe delicioso do paraense Osvaldo Oliveira. Numa mostra arrebatadora de que é cantora de mão cheia, Lia bota voz na modinha de viola brejeira Moreno dengoso (José Barbosa). Podia figurar em trilha de novela. É Lia pronta para ocupar os maiores teatros do Brasil, com o porte que tem, carregando uma mostra das mais verdadeiras da musicalidade pernambucana e nordestina. Para impressionar paulistas, cariocas e gringos.
"Existe sim, e lá estava em sala deum antiquário na rua do Lavradio como se fora uma peça rara daquela coleção: sorriso discreto e desconfiado, alta, uma deusa de ébano. Era sua primeira apresentação no Rio de Janeiro e a platéia aguardava com expectativa porque até aquele dia Lia de Itamaracá não passava de folclore para nós", continua Zezé do Folclore. Lia e sua ciranda, agora cocos, frevos e maracatus, ainda tem este caminho a percorrer: desfazer-se do mito e materializar-se como grande cantora do povo, viva, atuante (inclusive como merendeira de uma escola estadual, em Itamaracá, função que irá cumprir até aposentar-se ano que vem, ao completar 65 anos), guerreira.
Serviço
Lançamento do CD Ciranda de Ritmos - Lia de Itamaracá
Quando: Sexta-feira, às 21h
Onde: Nascedouro (Terminal de ônibus de Peixinhos, Recife)
Gratuito
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=2008612202623&assunto=76&onde=1
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Acesse: www.olindaurgente.com.br
no Portal O Nordeste.com: www.onordeste.com
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