segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Água não chega às torneiras


Chico Farias

Comunidade de São Benedito, em Olinda, sofre há dois anos com problema
MORADORES estão pegando água com vizinhos


Laiziane Soares

Dona Angela Paraíso, de 51 anos, é moradora do bairro de São Benedito, em Olinda. Há dois anos não chega água às torneiras da comunidade, que passa por um rigoroso racionamento. Cansada de ter que passar a madrugada acordada esperando a água chegar para encher os baldes e lavar roupa, dona Angela, entrou em contato com a Folha para denunciar o descaso por qual passa a comunidade onde mora.

De acordo com a Compesa, o calendário de São Benedito é de um dia com água e dois sem. Segundo, Dona Angela não é bem isso que acontece. “No dia que era pra ser de água, só temos algumas horas para encher os baldes. A água chega à tarde, às vezes às 22h e acaba antes das 6h do dia seguinte. Passo a noite fazendo os serviços dentro de casa e lavando roupa. A conta d’água chegou para eu pagar R$ 49,68. Não vou pagar por algo que não tenho. Já disse a Compesa que pode cortar e levar os canos se quiser”.

Angela não é a única a passar a noite em claro. Maria do Carmo, de 52 anos, mais conhecida como Dona Cacau, também troca a noite pelo dia à espera a água que teima em não chegar. “Não agüento mais ter que acumular a roupa de dois dias para lavar numa noite. A nossa sorte é a casa de Seu Ivo, ele deixa a gente usar a água do poço dele”. Dona Cacau se refere ao babalorixá Ivo de Xambá, do Terreiro de Santa Bárbara, que fica na rua Severina Paraíso da Silva. É lá que os moradores da comunidade vão buscar um pouco do líquido todos os dias.

Nos fundos da residência de Ivo existem dois banheiros que ficam à disposição daqueles que não têm como tomar banho. No quintal várias mulheres disputam a água do poço que abastece boa parte dos moradores do quarteirão. “Durante o dia é um vai e vem de gente com baldes. Às 5h já tem gente lá para tomar banho pra trabalhar”, conta Dona Cacau . Maria Rosilene, de 27 anos, tem dois filhos, um de 8 anos e outro de 3. “O meu caçula nunca tomou banho de chuveiro, ele sabe o que é mas nunca viu a água sair de lá”.

Semana passada, a bomba da caixa de Ivo queimou. Os moradores ficaram sem água da Compesa e sem água do poço do terreiro. “Foi um sufoco. A roupa de domingo foi lavada na sexta passada. Foram dois dias sem água. O pessoal da rua fez uma cotinha para comprar uma bomba nova e pagar a mão-de-obra”, lembrou Rosilene. Ela ainda deixou claro que tem que escolher em usar a água para lavar a roupa ou tomar banho. “Não dá para fazer os dois. Quando a gente não tem dinheiro para comprar água mineral, a gente ferve a água do poço e bebe”.

Por causa do uso elevado da eletricidade consumida pela bomba que puxa água do poço, a conta de luz de Ivo tem ficado entre R$ 250 e R$ 300. “Infelizmente eu não tenho mais condições de ajudar. Todo mês a família faz uma cotinha para pagar a conta. É muito triste ver o povo sem água, correndo para aproveitar o pouco que pinga das torneiras. Isso é um caso de saúde pública”.


COMPESA
Segundo o chefe do escritório da Compesa em Peixinhos, Isaías Fernandes, a companhia já foi comunicada sobre o caso do bairro de São Benedito e está empenhada em resolver o problema. “Diante da complexidade do sistema, fica difícil identificar o que está provocando a queda no abastecimento e dar soluções imediatas. Ainda de acordo com Fernandes, equipes técnicas da Compesa fizeram pesquisas na rede da área para identificar vazamentos não parentes, mas não teve sucesso.

http://www.folhape.com.br/

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