domingo, 9 de março de 2008

Similitudes do Recife e Olinda


Leonardo Dantas Silva
Jornalista e escritor, é autor do livro Holandeses em Pernambuco - 1630-1654. Recife: Instituto Ricardo Brennand, 2005. 320p. ilustrado.

Aos olhos de quem a contempla pela primeira vez, Olinda se apresenta povoada de sonhos e tomada pela claridade a ofuscar as retinas de quem chega: "de limpeza e claridade / é a paisagem defronte."

Segundo a tradição recolhida pelo frei Vicente do Salvador, registrada na sua História do Brasil (1627), a denominação Olinda vem de "um galego criado de Duarte Coelho, porque, andando com outros por entre o mato, buscando um sítio em que se edificasse (a vila), e achando este, que em um monte bem alto, disse com exclamação e alegria: O' linda!"

Enquanto Olinda imperava do alto de suas colinas, ao longe, em direção ao sul, surgia, quase ao mesmo tempo, "um porto tão quieto e tão seguro, que para as curvas das naus serve de muro", na observação da Prosopopea, poema épico escrito em Pernambuco pelo poeta Bento Teixeira, publicado em Lisboa (1601), que bemdefine a paisagem quinhentista do Recife.

Situada no cruzamento do paralelo, a oito graus e três minutos e 45,8 segundos de latitude sul, e do meridiano a 34 graus e 52 minutos e 14,8 segundos de longitude oeste, a "Barra do Arrecife" (1532), veio a ser a "ribeira do mar dos Arrecifes dos Navios", referida pelo donatário Duarte Coelho na carta foral de 12 de março de 1537.

Já naqueles primeiros anos, era o Recife o porto por excelência, o de maior movimento da América Portuguesa, escoadouro principal das riquezas da mais promissora de todas as capitanias: Pernambuco. Tal riqueza logo veio se tornar conhecida em todos os portos do Velho Mundo, de modo a despertar as atenções dos Países Baixos que, em guerra com a Espanha, sob cuja coroa estava Portugal e suas colônias, necessitavam de todo o açúcar produzido no Brasil para suas refinarias.

Em 1630, a produção de 121 engenhos de açúcar, "correntes e moentes", no dizer de van der Dussen, viria a despertar a sede de riqueza dos diretores da Companhia, que armou uma formidável esquadra sob o comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck que, com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas de Pernambuco em 14 de fevereiro daquele ano, iniciando assim a história do Brasil Holandês.

Em Olinda, cujos costumes e paisagem foram tão bem descritos pelo frei Manuel Calado, "tudo eram delícias e não parecia esta terra senão um retrato do terreal paraíso". Mas a segurança para o comandante Waerdenburch e demais chefes holandeses falava mais alto, daí fixarem-se no Recife e destruírem totalmente a vila de Olinda em incêndio provocado em novembro de 1631.

Com o passar dos anos, através de aterros dos terrenos de alagados e de cursos d' água, foi o Recife crescendo em área, muito embora, somente em 1817, por provisão de 6 de dezembro, foram desmembrados do termo de Olinda o atual bairro da Boa Vista e a povoação dos Afogados.

Somente em 1823 foi o Recife promovido à categoria de cidade, por Carta Imperial de 5 de dezembro, seguindo-se de sua elevação a capitalde Pernambuco, através de Resolução do Conselho Geral da Província datada de 15 de fevereiro de 1827.

O Recife tem seu centro urbano constituído por três ilhas: a do Recife, a de Santo Antônio e a da Boa Vista, as quais se interligam com o continente através de pontes que são como braços a unir toda a cidade. Os rios e as pontes fazem da capital de Pernambuco um eterno convite para passeios a pé, ou de barco, nos quais o caminhante ganha as ruas sem maiores compromissos, gozando do cenário e da beleza dos seus monumentos, como a repetir os versos do poeta Ledo Ivo: "Amar mulheres, várias!.../ Amar cidades, só uma - Recife./ E assim mesmo com o vento amplo do Atlântico/ E o sol do Nordeste entre as mãos."

http://www.pernambuco.com/diario/2008/03/09/opiniao.asp

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