sexta-feira, 28 de março de 2008

Mostra traz fotos experimentais em Olinda


Foto: Guga Soares/Divulgação

Isaías Belo Foto: Isaias Belo/Divulgação

A fotografia figura no mundo da arte como um dos mais elitistas suportes para criação. Possibilidades de baratear dos custos nunca foram de grande interesse para o mercado, interessado em explorar o consumo de equipamentos de ponta, voltados para a profissionalização. Mesmo o amadorismo sempre exigiu um certo poder econômico para compra de câmeras compactas e filmes. Veio a era digital e a fotografia se tornou mais presente no dia-a-dia, o que não significa popular.

Numa outra perspectiva de captação fotográfica, um grupo de fotógrafos profissionais se reúne hoje em Olinda, no Espaço 97, para mostrar como esta arte pode alcançar novos públicos e assumir outras características que não seja a documentação. Instrumento para arte-educação, meio de expressão e inserção social são apenas algumas das percepções que surgem diante da mostra Fotografias experimentais. Todos as imagens, com trabalhos de nove fotógrafos, foram feitas com as chamadas máquinas precárias, sejam elas pin-holes (produzidas com latas) , pin-lux (em caixas de fósforo), lambe-lambe, plec-plec e as populares Holga.

Esta última foi a escolhida por de Damião Santana, um dos participantes da mostra. A Holga foi produzida em 1981 na China, com a função de ser uma câmera barata e acessível, para ser usada com o filme mais popular no país, o 120 (médio formato). Seguidor da lomografia - surgida na guerra com as câmeras Lomo e que depois passou a defender que o olhar do fotógrafo é mais importante do que o equipamento utilizado - Damião aposta na idéia de usar qualquer tipo de câmera em busca de imagens. Obviamente, nada nítido demais, como foco perfeito ou cores reais, "mas são imagens que mostram a fotografia como expressão pessoal".

Damião está na mostra ao lado de Mateus Sá, Rachel Elliz, Mila Targino, Isaias Belo, Josivan Rodrigues, Guga Soares, Luiz Santos e Tonho Ceará, este último importante por ser o único lambe-lambe "sobrevivente" do Recife, que mantém diariamente sua câmera montada em frente ao Mercado de SãoJosé, centro do Recife. O ensaio de retratos foi produzido durante projeto que desenvolve desde o ano passado com o fotógrafo-produtor Luiz Santos, empenhado em resgatar a trajetória de Tonho e seu suporte.

Guga Soares, organizador da exposição e que começou a fotografar há pouco tempo, se diz fascinado com os resultados que vem obtendo com máquinas precárias. Hoje, ele apresenta fotos feitas em um dia de sol em Itamaracá, durante um bate-bola de crianças. "Registrei os momentos com uma plec-plec com máscara panorâmica", diz ele sobre a câmera popular, encontrada por no máximo R$ 10. A tal "máscara panorâmica" na qual ele se refere é feita com fita isolante, que traz um enquadramento parecido o usado no cinema. O mesmo recurso foi utilizado pelo experiente Mateus Sá, do coletivo Canal 03.

Com o que aprendeu durante a 1ª Semana de Fotografia do Recife (nov/2007), na oficina do paraense Miguel Chikaoka, Rachel Elles apresenta fotos feitas em caixas de fósforo. A pinlux, como define Chikaoka, é miúda e montadacom filme 35mm e fita isolante. Simples, prática e com custo irrisório, tem sido um dos principais instrumentos de arte educação para Raquel no projeto Fotolibras (projeto de fotografia participativa com jovens surdos).

Josivan Rodrigues ganhou de amigos alguns filmes com validade vencida, Kodacolor 126 Gold. Curioso com o que poderia obter, foi atrás de câmeras adequadas para a película. No Trapeiros de Emaús comprou duas Kodak Instamatic, produzidas na década de 1970. O resultado são imagens azuladas, de plasticidade contagiante.

Plasticidade, aliás, é a marca do ensaio Primitividade, de Isaias Belo. Em 2005 ele fez a documentação do processo de construção do Templo do sacrifício, de Francisco Brennand. Diante do mestre, preferiu deixar de lado a câmera digital e utilizar uma pin-hole. Com lata de leite e papel fotográfico, Belo faz uma das mais originais leituras da imagem de Brennand e seu cotidiano de criação. Fotografias experimentais também mostrará, em forma de varal, fotos de alunos de alguns participantes do projeto e terá a participação de Dona Del do Coco e DJ Uirá.

Serviço:

Exposição Fotografias Experimentais
Quando: Hoje, a partir das 19h
Onde: Rua Treze de Maio, 97,
Sítio Histórico de Olinda
Quanto: Gratuito
Informações: 8795- 0330

Da Redação do PERNAMBUCO.COM, com informações do Diario de Pernambuco

http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=2008328095054&assunto=76&onde=1

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