segunda-feira, 1 de junho de 2009

Olinda: Um achado arqueológico encoberto


Descobertas no Conjunto Carmelita obrigaram Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a readaptar projeto de recuperação. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Para evitar danos, Iphan decidiu que algumas das descobertas sobre a evolução do Conjunto Carmelita de Olinda ficarão longe dos olhos do público

Tânia Passos
taniapassos.pe@diariosassociados.com.br

Parte de uma das maiores descobertas da arqueologia urbana no estado sobre a origem e evolução do Conjunto Carmelita, em Olinda, ocorrida em julho de 2006, vai ficar encoberta.

O novo projeto de recuperação do templo, que estava com as obras paralisadas há quase três anos para se adequar aos achados, foi finalmente concluído pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No projeto, o Iphan optou por encobrir alguns dos achados. Entre eles, uma das paredes originais da ermida construída antes da chegada dos carmelitas em 1540. Segundo o Iphan, a parede não ficará exposta para evitar que sofra danos. Já as pinturas do século 17, encontradas no altar-mor e em uma das capelas laterais, vão permanecer longe dos olhos do público. Por cima delas vão ser instaladas as calhas já existentes em madeira datadas do século 18.

"Foi uma decisão bastante pensada que envolveu uma discussão com especialistas em todo o país e se optou em ficar com as calhas e registrar as pinturas em um painel que ficará exposto", explicou Frederico Almeida, superintendente do Iphan. Um dos arqueólogos responsáveis pelos achados, Paulo Tadeu de Albuquerque, lamentou a decisão de encobrir as descobertas."Não fui consultado durante a elaboração do projeto, mas esperava um melhor aproveitamento dos achados que ajudam a recontar a história, disse Albuquerque. Também é contrária à posição do Iphan, a técnica em conservação e restauração de bens culturais móveis integrados Rosália Menezes, que trabalhou na restauração do painel. "É uma pintura do século 17, um século mais antiga do que a calha de madeira que poderia ter sido transferida para a capela lateral direita", contou.

Evidência - A proposta do atual projeto é deixar em evidência, na área externa da igreja, os contornos do alicerce da capela da Ordem Terceira do Carmo, erguida na segunda metade do século 17 e demolida no início do século 20. Também foram encontrados no pátio da igreja, os alicerces do Convento Carmelita, erguido em três períodos distintos nos séculos 16,17 e 18. O convento foi incendiado pelos holandeses. "Os alicerces do convento e da capela vão ficar em evidência e faremos ainda um piso para facilitar as visitações e uma iluminação especial para ressaltar as edificações",afirmou o arquiteto do Iphan Fábio Cavalcanti.

Outra descoberta que vai ficar à mostra são os alicerces de uma fachada construída antes de 1631 e com um recuo de quatro metros em relação à atual, erguida a partir de 1704. A base dos alicerces da fachada vai receber uma cobertura de vidro que ficará nivelada com o piso da igreja. "As pessoas vão poder observar estes dois momentos da edificação da igreja", revelou a secretária executiva de Patrimônio, Cláudia Rodrigues. A licitação para a retomada da obra a ser executada pela Prefeitura de Olinda deverá ocorrer nos próximos 90 dias. A previsão de execução é de cinco meses, ou seja o primeiro semestre de 2010. Os recursos do programa Monumenta para a obra, orçados inicialmente em R$ 436 mil, passou para R$ 989 mil.


Diario de Pernambuco

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