domingo, 20 de abril de 2008

Orquestra Contemporânea de Olinda lança CD



Entrosamento do grupo se reflete no clima de Jam Session das composições que estão no repertório do disco Foto: Costa Neto/Divulgação

Craques da música em seleção de sonhos Orquestra Contemporânea de Olinda lança CD homônimo no próximo domingo, com show gratuito no Carmo

Renato L
Da equipe do Diario

Imagine uma seleção onde os craques tenham espaço para exibir as qualidades que o público aprecia quando jogam por seus clubes. Imagine esse esquadrão como um verdadeiro ente coletivo, onde as táticas são definidas através da participação de todos. Imagine, agora, nosso time dos sonhos composto por jogadores de idade e origem social diversas. Pois bem: a Orquestra Contemporânea de Olinda é a transposição para o mundo da música desse delírio futebolístico. Quem duvidar, basta conferir o CD homônimo que o grupo lança no próximo domingo com um show gratuito, às 17h, na Praça do Carmo.

O pontapé-inicial para a formação da orquestra foi dado em meados de 2006 por Gilú, codinome artístico de Gilson do Amaral, percussionista dono de um currículo onde constam trabalhos com nomes como Otto, Erasto Vasconcelos, Mundo Livre e Silvério Pessoa. Ao assistir a um ensaio do Grêmio Musical Henrique Dias, na sua sede dos Quatro Cantos, ele teve um insight decisivo: "vi a necessidade de inserir aqueles músicos no mercado de trabalho. Como eles não tocavam com ninguém, tive a idéia da orquestra. Queria muita gente envolvida, pensei, originalmente, em 15 integrantes".

Cena musical - O escrete que brotou do devaneio de Gilú traz, na verdade, 12 músicos. Metade dos convocados vem de vários grupos da "cena musical pernambucana". O arcabouço rítmico junta o baterista Raphael Beltrão (China), o baixista Hugo Gila (Academia da Berlinda) e o próprio Gilú. As cordas (guitarra e viola) ficam por conta de Juliano Holanda, que já tocou e/ou compôs com feras como Erasto Vasconcelos e Alessandra Leão. Os vocais levam a assinatura de Tiné (Academia da Berlinda) e Maciel Salú. Os demais integrantes pertencem às fileiras do Grêmio Musical Henrique Dias, que empresta o maestro (e saxofonista) Ivan do Espírito Santo e os instrumentistas Lúcio Henrique Vieira da Silva (sax alto), Luiz Antônio Barbosa (trompete), José Abimael de Santana (trombone), Adriano Ferreira (trombone) e Alex Santana (tuba).

Apesar do pouco tempo devida, a Orquestra Contemporânea de Olinda já tocou nos três principais festivais locais (Abril Pro Rock, Rec Beat e Festival de Inverno). A repercussão das apresentações certamente ajudou na aprovação do projeto do disco de estréia na edição 2007 do Funcultura (Fundo de Incentivo a Cultura do Estado de Pernambuco). Gravadas entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008 no Fábrica Estúdios, as 11 faixas custaram a irrisória (para os padrões do mercado) quantia de R$ 12 mil. O resultado final comprova, outra vez, que dinheiro não é tudo na vida. Afinal, Orquestra Contemporânea de Olinda enquadra-se, tranquilamente, na linhagem de ótimos discos gerados em Pernambuco a partir da retomada dos primórdios da década de 90.

Prazer de tocar - A facilidade com que os craques dessa orquestra ganharam entrosamento se reflete no clima de jam session prazerosa das composições. Esse é um disco de quem sente um prazer imenso em tocar e não está disposto a ceder fácil aos preceitos do mercado. Mas não há qualquer traço de purismo, também. Em cada faixa, a inescapável mescla de elementos sonoros de tempos e espaços diversos (samba de gafieira, dub, ska, brega#) da modernidade tardia deixa a sua marca. É como se a orquestra de Erlon Chaves voltasse à ativa turbinada por Lee Perry ou outro cientista dos ritmos da Jamaica e com dois vocalistas tão entrosados nas tabelinhas quanto Pelé e Coutinho.

Os pontos-altos, aqui, são muitos: Canto da Sereia, pegajosa como um hit de rádio, o romantismo singelo de Brigitti, a guitarra e os metais afro-beat de Não interessa não# junto com outros destaques do disco, elas tem uma chance de encontrar o caminho para o grande público se o contrato de distribuição, divulgação e licenciamento provisório assinado com o selo Som Livre Apresenta funcionar. Afinal, essa divisão do braço fonográfico da Globo voltada para artistas novos tem o poder de encaixar seus contratados nas cobiçadas trilhas sonoras dos campeões de audiência. Que um grupo como a Orquestra Contemporânea de Olinda caia na boca do povo é o melhor presente que a música brasileira pode esperar em 2008.

http://www.pernambuco.com/diario/2008/04/20/viver1_0.asp

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