terça-feira, 7 de abril de 2009

Olinda: Alunos de escolas públicas viram atores em espetáculo da Paixão de Cristo


Rodrigo Paiva interpretou Cristo no ano passado e hoje ajuda na produção do espetáculo. Foto: Chico Porto/JC Imagem

Do JC Online

Em 2005, quando o sonho virou realidade, eram 80 alunos-atores, que encenavam a Via Crucis de Jesus Cristo. O palco, construído em TNT (que imita um tecido), contava com apenas quatro refletores. Hoje, o espetáculo da Paixão de Cristo, encenado por estudantes da rede estadual de ensino soma 450 pessoas, entre atores e figurantes. O palco também cresceu. Virou cidade cenográfica e a iluminação utiliza 21 refletores. Do dia para a noite, Eli Jonas Machado, técnico do Programa Escola Aberta, usa o teatro para resgatar a vida de jovens de escolas públicas de Olinda, no Grande Recife.

A estreia da 5ª edição do espetáculo aconteceu nessa segunda-feira (6), na Escola Estadual Mascarenhas de Moraes, no bairro 7-RO, e vai até a quinta-feira (9). Segundo Eli, cerca de 3.500 pessoas assistiram à encenação nessa segunda. A expetativa para a última apresentação é de cinco mil. "Os meninos estão fazendo trabalho de gente grande", disse Eli, que atua como diretor geral do espetáculo.

Quatro escolas de Olinda participam do projeto. Eli explica como acontece a seleção dos personagens. "Apresentamos vídeos nas escolas para convocar os alunos. Alguns ficam emocionados com o espetáculo. Outros não querem nem saber. Mas é exatamente esses que queremos alcançar". Segundo o diretor, a escolha dos personagens principais é no "olhômetro". "Vejo os que têm potencial e invisto neles. O Cristo do ano passado era aquele menino conhecido como da galera, que ninguém acredita que vai dar certo", lembra. Para evitar imprevistos, Eli conta com até três Cristos, dois Judas e várias Marias e Madalenas. "No ano passado mesmo, o Cristo passou mal na estreia e quem interpretou o papel dele foi outro aluno, escalado para fazer o demônio", disse.

Os ensaios - no total são dez - acontecem na Escola Estadual Mascarenhas de Moraes. O espetáculo tem uma hora e meia de duração e conta com as tradicionais cenas da tentação no deserto, escolha dos apóstolos, Santa Ceia, traição e enforcamento de Judas, julgamento, crucificação e ressuscitação. Além dos alunos, também participam pais e pessoas da comunidade. Desde 2007, a encenação tem o patrocínio da Secretaria de Educação. "Mesmo assim, ainda temos dificuldades. Contamos com cerca de 30 voluntários, mas precisamos pagar iluminação, fogos de artifícios, além de toda a estrutura", fala Eli.

RESGATE - O que motiva Eli Machado, que é voluntário no projeto, é a mudança de vida dos alunos. "Fui aluno de escola pública e sei da dificuldade. Fiz a maior burrice da minha vida quando abandonei os estudos, mas retomei depois de trinta anos. Mostro, através da minha vida, que é possível ser diferente", afirma o técnico.

Depois de abandonar a escola, Rodrigo Paiva, de 22 anos, que interpretou Cristo no ano passado, voltou a estudar e ainda ajuda na produção da peça. "Ele e outros exemplos me motivam a continuar", relata Eli.


http://jc.uol.com.br/canal/educacao/noticia/2009/04/07/alunos-de-escolas-publicas-viram-atores-em-espetaculo-da-paixao-de-cristo-183841.php

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