quarta-feira, 29 de abril de 2009

Padre acusado de agredir adolescentes em Olinda

Religioso confessou que bateu nas garotas e disse que elas costumavam fazer sexo no matagal próximo à igreja


Um padre está sendo acusado de espancar a pauladas duas jovens de 17 anos no Santuário da Mãe Rainha, no Morro do Peludo, em Ouro Preto, Olinda. O fato aconteceu no fim da tarde de segunda-feira, quando as adolescentes estavam sentadas junto a um matagal que circunda o templo. Paranaense, o padre Deonilson Nogueira confessou que bateu nas garotas, mas disse que antes foi agredido verbalmente pelo grupo, formado por quatro jovens, quando ordenou que saíssem da área que pertence ao santuário. O religioso chegou a insinuar que as garotas eram lésbicas e que faziam sexo no terreno. "Mas eu não tenho nada a ver com isso", falou o religioso. O caso foi parar na Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA). Os pais de uma das estudantes decidiu prestar queixa contra o padre.

Segundo Deonilson e alguns moradores da comunidade, é comum adolescentes irem ao matagal, que é mal iluminado, para usar drogas ou mesmo fazer sexo. "Essa não é a primeira vez que falo com uma das garotas. No ano passado, ficavam a tarde toda aqui, ou seja, faltavam aula. Ontem ela não estava nem aí quando mandei que todos saíssem do lugar e ainda disseram palavrões comigo", explicou o religioso. Um habitante de uma rua próxima disse também que muitas garotas são exploradas sexualmente na área. De acordo com Deonilson, até mesmo um ofício já foi encaminhado à Polícia Militar para melhorar a segurança nas imediações do seminário, mas nada teria sido feito. "A prefeitura apenas colocou algumas luzes na escadaria, mas isso não resolveu", comentou.

Outra versão - Os adolescentes contaram outra versão para o episódio. Segundo uma das estudantes, cuja família prestou depoimento ontem à tarde na GPCA, o grupo usou o caminho como atalho para casa e parou porque um deles precisava urinar. "Ele já chegou muito nervoso, chamando a gente de cadela no cio. Pedi calma, mas ele estava muito descontrolado e começou a bater com um pedaço de madeira", contou. Os estudantes disseram, ainda, que não agrediram o religioso verbalmente. A mãe da garota falou que no mesmo dia da agressão procurou o padre para pedir explicações, mas o vigilante do santuário não permitiu a entrada. "Não vou mais procurá-lo para saber o que aconteceu. Já tomei minhas providências e quero que ele pague pelo que fez", disse a mãe da garota. As duas meninas estão com marcas de espancamento nos braços, nas pernas e costas.

A delegada Mariana Pontes, da GPCA, está apurando o caso. Ontem mesmo, ela fez a ouvida da menina, que já fez exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) no mesmo dia da agressão. Segundo a delegada, o padre será intimado a prestar depoimento ainda nesta semana.


Entrevista // Deonilson Nogueira


"Errei, mas não me arrependo"



O padre Deonilson Nogueira está há três anos à frente do Santuário da Mãe Rainha. Nesse período, disse que chegou a fazer um trabalho na comunidade para conscientizar sobre a prostituição e uso de drogas no matagal que cerca o templo. Ontem, ele reconheceu que tomou uma atitude errada ao bater nas meninas, mas disse que no momento não encontrou outra solução.

O que as adolescentes estavam fazendo de errado?

Já tinha reclamado várias vezes com uma das meninas porque ficam namorando no mato. Passam a tarde lá ao invés de irem para o colégio. Dizem até que são lésbicas, mas não tenho nada a ver com isso.

Por que o senhor bateu nas garotas?

Devia ter falado antes com o pai de uma delas, mas a menina é muito sem educação. Não estão nem aí para o que eu falo, "ficam tirando onda", chamando palavrões, jogando pedras. Perdi a cabeça. Tinha terminado de roçar o mato e nunca vou de mão vazia, pois não sei o que vão fazer comigo. Então, fui com a ripa e reclamei com a menina. Perguntei: o que vocês "tão" fazendo aí? Lugar de aluno é na sala de aula.

O senhor está arrependido?

Claro que não é certo fazer isso, mas não estou arrependido. Chega um momento em que a gente fica impotente. Não tive saída. Quem sabe isso que aconteceu não desperta o debate sobre a questão do uso de drogas no lugar.

O senhor pretende mudar de igreja?

Não. Vou continuar meu trabalho. Aqui a comunidade já está de saco cheio com os adolescentes que vêm para cá usar drogas, se prostituir. Todo tipo de gente se esconde aqui.


http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/04/29/urbana3_1.asp

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