terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Nada vaidosa

A mídia é generosa na freqüência com que anuncia a vasta programação nas ruas de Olinda, pouco antes de o rei Momo dar o primeiro bocejo e despertar para a folia. O susto do brincante, que, atendendo à propaganda vai em busca de frevo nas ladeiras da Marim, também.

Logo na principal entrada da cidade, procura sinais do carnaval e não encontra mais do que restos de decoração do período natalino - a propósito, pobrezinha de dar dó.

Por esse referencial, jamais descobriria se a festa, no linguajar da maioria dos foliões que lotam as ladeiras, "vai bombar" ou ser igual àquela que passou. Olinda nunca deu mesmo a menor bola para esse quesito, basta ver o que diz Fernando Augusto, chamado a trazer à luz as peças que vão adornar o sítio histórico: "Ninguém presta atenção em decoração, durante o carnaval".

Sendo assim, R$ 500 mil para tanto descaso e num município que padece de pobreza crônica, até que é dinheirão jogado fora. Contra-senso pago a peso de ouro: diante da certeza de que folião só tem olhos para a irreverência, marca da festa nas ladeiras da Marim, melhor seria anunciar outro destino mais nobre para os R$ 500 mil - a educação, por exemplo, já que, deixando de lado os números do desempenho dos alunos em sala de aula, nem a biblioteca municipal consegue ver concretizada a prometida reforma em sua estrutura.

Sobre este assunto, o Recife tem visão bem diferente. Sabe que festa com chances de aparecer no Brasil inteiro, pela telinha, tem que ser bem apresentada e funcionar como convite irresistível, porque quanto mais visitantes, melhor. A não ser que a indiferença de Olinda se justifique pelo fato de a cidade já não fazer questão de mais alguns milhares em suas ladeiras.

Luce Pereira - Diário Urbano

http://www.pernambuco.com/diario/2008/01/22/urbana3_0.asp

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