segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Caravana maranhense põe o povo para dançar


Coreografias beiram o erotismo e divertiram a platéia. Foto: Alcione Ferreira/DP

Músicos do Tambor de Crioula coduzem apresentação das bailarinas. Foto: Alcione Ferreira/DP

Grupos que defendem a tradição do Tambor de Crioula e o Cacuriá fizeram festa na Casa da Rabeca, em Olinda.

Michelle de Assumpção
Da equipe do Diario

Na Casa da Rabeca e do Maracatu, os tambores ancestrais de crioula foram os que soaram no último sábado, quando o espaço cultural do Mestre Salustiano, na Cidade Tabajara (Olinda), serviu de palco para duas culturas tradicionais do Maranhão: a mais antiga, Tambor de Crioula, e outra mais moderna e estilizada, o Cacuriá, promovido pela mais famosa representante do gênero, D. Teté do Cacuriá.

Trazer a tradição popular do Maranhão sempre foi vontade do Mestre Salu, que incluiu as duas apresentações na programação do ciclo junino da casa. Pouca gente compareceu, mas os que foram se jogaram na umbigada da crioula. Tanto o Tambor, conduzido pelo mestre Gonzalo, quanto D. Teté, fazem parte hoje do Laborarte, uma espécie de centro de produção da cultura, que oferece oficinas e forma turmas de tocadores e dançarinos dos gêneros populares do Maranhão. A caravana que veio para Olinda trouxe, portanto, um mesmo grupo de tocadores e dançarinos, que se apresentaram, primeiro, com o Tambor de Crioula, depois com D. Teté.

O tambor é uma tradição mais antiga e conserva a rusticidade de sua apresentação. O som é produzido por três tambores apenas, feitos com grossos troncos de madeira - de tamanhos diferentes - e pele de animal. No caso do grupo de S. Benedito, eles são cobertos por pele de veado. O tambor grande é chamado de roncador ou rufador, o médio de meião, socador ou chamador, e o pequeno de perengue, merengue ou crivador. Os homens tocadores, por isso, são chamados de "coureiros". Eles ficam cantando as toadas, respondendo os temas iniciados pelos mestres e tocam os tambores sentados sobre cada um deles.

No passado, relatos sobre a tradição dão conta de que eles dançavam com movimentos pesados parecidos com a capoeira. E, assistindo, estavam os parentes, amigos, acompanhantes e o público em geral, que é conclamado a participar, cantando o refrão das toadas e movimentando o corpo com os passos da dança.

No caso do grupo do Laborarte, montado para levar a tradição maranhensepara outros estados, o objetivo é deixar a dança mais atraente. Por isso os homens são arrodiados por mulheres de longas saias godês, que se insinuam para eles e para o público, dão umbigada entre si e, numa determinada hora da apresentação, passam a provocar também a platéia.

Mistura de samba, marcha e valsa com muita sensualidade

Um intervalo maior de tempo foi preciso na Casa da Rabeca para que o mesmo grupo do Tambor de Crioula trocasse de roupa para a apresentação junto a D. Teté do Cacuriá. Registrada como dança folclórica do Maranhão em meados dos anos 70, o Cacuriá era antes, naturalmente, a comemoração que se fazia pelo encerramento da festa do Divino Espírito Santo. Arriado o mastro da bandeira, as mulheres sobretudo tocavam caixas e entoavam canções improvisadas, que mexiam com os que estivessem por perto. As caixas continuaram sendo os únicos instrumentos para acompanhar a brincadeira, depois que foi institucionalizada. D. Teté, no entanto, é considerada uma inovadora por ter introduzido cordas (violão e cavaquinho) e sopros (flauta) à manifestação.

Não há relatos de que as danças do cacuriá sejam mais libidinosas que às do tambor de crioula, mas no caso do grupo de D. Teté, as coreografias beiram o erotismo, para o divertimento da platéia. A maioria das músicas tem duplo sentido e o corpo de dançarinos, aos pares, desenvolve coreografias baseados no que se está cantando. As danças tem movimentos soltos, rodas se formam e se desfazem. Passam uns pelos outros em giros e, de repente, num momento mais quente da música, grudam-se e rebolam juntos, nas mais diferentes posições.

Alauriano Campos de Almeida, o Lauro brincante, folclorista e produtor da cultura popular maranhense, é considerado o criador do Cacuriá. Segundo ele, a dança do cacuriá "é uma mistura de samba, marcha e valsa, e chorado". É também uma dança democrática, apesar do balé que praticamente define as coreografias bem marcadas. Na Casa da Rabeca, no entanto, deu para perceber que o toque das caixeiras é contagiante. A sugestão de sensualidade que elas transmitem é para ser absorvida por todos. Muitos casais entenderam e iniciaram seus próprios movimentos.



http://www.pernambuco.com/diario/2008/01/07/viver5_0.asp

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