domingo, 15 de fevereiro de 2009
Maratona de orquestras no sobe e desce ladeiras
Barbosa divide sua equipe de 36 músicos em três blocos para garantir o som de clubes, blocos e troças. Foto: Helder Tavares/DP/D.A. Press
Grupo do maestro Clóvis Barbosa é um exemplo do malabarismo que os músicos fazem durante o carnaval para não sair do tom
Michelle de Assumpção // Diario
michelle.assumpcao@diariosassociados.com.br
O maestro Clóvis Barbosa é um dos homens mais conhecidos da Barreira do Rosário, comunidade dentro do bairro do Bonsucesso, em Olinda. Perguntou onde ele mora, todos apontam: ou para a esquina onde está seu armazém de construção e a casa onde mora; ou para o final na mesma rua, onde está o espaço que construiu com recursos próprios para abrigar a Escola Profissionalizante de Música Villa Lobos. Clóvis costuma movimentar sua vizinhança com ações comunitárias, mas a maior delas acontece dentro da escola, onde ele repassa aos jovens, aulas de partitura de frevo-de-rua. À esta altura do ano, os moradores da Barreira já se acostumaram com o som que transborda pelas janelas da casa, durante os ensaios para o carnaval. A partir desta semana, a orquestra estará com seus trinta e seis músicos divididos em três grupos. É assim que funciona a maioria das orquestras de Olinda que trabalha no carnaval. O folião que sai atrás de uma e de outra agremiação, talvez não saiba, mas pode estar pulando ao som dos mesmos músicos que ouviu, poucas horas atrás, em outro bloco.
"Quando mando as primeiras orquestras, às 10h, vou voltando atrás das outras para ver o comportamento. Elas chegam trinta minutos antes da saída do clube", diz Clóvis, que prefere recrutar músicos de longe. "Meus músicos vêm de Casa Amarela, Abreu e Lima e até de Pombos. O povo aqui de Olinda não dá para confiar, sai da orquestra se aparecer alguém que pague mais", conta. Os músicos do interior dormem na sede da Villa Lobos. Recebem passagem e alimentação no período de setembro - quando começam os ensaios, até fevereiro. No final do período momesco terão feito uma média de 38 apresentações.
São dezenas de troças. Entre elas, Filhos do Homem da Meia-Noite, Vassourão de Olinda, Mulher do Dia, Barrados no Baile, O Bicho vai pegar, Quem for corno me acompanhe, além de cantores como J. Michiles. É uma média de quatro apresentações por dia, com intervalo de uma a duas horas, entre uma tocada eoutra. Para quem fugiu da lida da roça, para nunca mais voltar, é uma rotina mais que suportável. Clóvis é natural de Bonito e passou a infância e adolescência plantando batata e macaxeira. "Aos treze anos, vim sozinho com cinco sacos de batata para vender na Ceasa. Meu pai botou o endereço de casa no meu bolso pra eu não me perder na volta. Mas eu sabia que não ia voltar mais", conta o maestro, que passou pelas mãos dos padres salesianos e depois pela Marinha, antes de ingressar na música.
Convênio - A articulação de Clóvis lhe rendeu outro posto importante dentro do mercado de carnaval. Ele é vice-presidente da Associação das Orquestras de Frevo de Olinda (Adofo). Ao lado do músico e produtor Serginho de Olinda, que é o presidente, cuida do convênio das orquestras com a Prefeitura de Olinda. A Prefeitura repassa à associação a lista de blocos e clubes que precisam das orquestras. A Adofo possui trinta orquestras filiadas. A maioria já tem afinação com certas agremiações. O Ceroula só desfila com a orquestra do maestro Oséas, que também acompanha o Menino da Tarde. A orquestra do maestro Lessa faz a Pitombeira e a Zebra. Maestro Carlos acompanha o Homem da Meia Noite, o bloco Dez de Charque e uma Latinha, entre outras. A orquestra Maracafrevo, que é de Serginho, vai atrás do bloco dos Abutres, da corrida dos bonecos gigantes de Olinda, etc. A Orquestra Milenar, do maestro Josafá, toca em pelo menos 40 troças da área dos Bultrins.
Para Serginho, o músico de carnaval não reclama de tocar tanto nesse período. Pelo contrário, rasga a boca e está tudo bem. Geralmente ele planeja algum benefício com o apurado das tocadas. Uma televisão ou geladeira nova, quitação de dívidas, etc. A experiência, no entanto, faz o presidente da Adofo perceber o "nó" na dinâmica das orquestras de frevo durante o carnaval. O atraso no pagamento por parte da prefeitura, vem desestimulando muitos maestros a formarem novos grupos. "Até falta de orquestra tem a ver com esse pagamento sim. Ano passado até foi bom, terminou de pagar tudo no primeiro semestre. Esse ano esperamos que possam pagar pelo menos 50% antes e e 50% depois. É a promessa do atual prefeito", diz Serginho. Os músicos maratonistas agradecem.
http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/02/15/viver1_0.asp
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