terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Coco de Umbigada reclama de perseguição da PM

PERNAMBUCO SE ENVERGONHA COM AÇÃO DA POLICIA MILITAR!!!

DE NOVO, parece mentira ou quem sabe pesadelo, mas uma vez a policia Militar de Pernambuco, atacou o Ponto de Cultura Coco de Umbigada, articulou uma operação de Guerra com mais de 40 policiais, civil e militar, tinha pra mais de 10 carros de policia, tinha Sargento, tinha Tenente, tinha Major, Capitão, até um delegado da Polícia Civil arrumaram, TUDO A MANDO DO MAJOR MARCOS PEREIRA E DO SEU IRMÃO CAPITÃO DANIEL PEREIRA, são moradores da nossa comunidade do Guadalupe, a mãe é evangélica e eles não aceitam, não toleram nem respeitam o nosso Trabalho.

Enquanto o coco estava no beco da Macaíba, onde há quase 15 anos moramos e temos nosso Terreiro da Umbigada, eles não gostavam, mas, tava distante, a partir do momento que o coco veio pra Rua principal, Rua do Guadalupe, próximo a Casa dos irmãos oficiais, a coisa mudou.

Alugamos em outubro passado uma nova casa, na Rua do Guadalupe, bem próximo da casa dos oficiais, ao lado da Escola Municipal Maria da Glória Advíncula, onde desenvolvemos a Ação Griô, para acolher melhor as atividades do nosso Ponto de Cultura, a partir daí a perseguição foi reforçada.

Quando os 40 policiais nos abordaram, querendo nos levar presos, Eu e Quinho, o rasta meu marido, na última Sambada, eu disse que tínhamos o apoio da Prefeitura de Olinda, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado (FUNDARPE), falamos do papel de um Ponto de Cultura na comunidade, o Capitão Daniel disse que era mentira que tínhamos esse apoio, que forjamos um banner, pois o Ministério da Cultura não apoiaria projeto "de um povo com estes cabelos", sic.

O Tenente que comandava a operação disse que eu tinha que ir pra delegacia, pois tinha uma denúncia contra agente, e nós tínhamos infringindo a lei do sono.

Eu disse que não iria acompanha-los à delegacia, pois não sou criminosa, eles disseram que eu iria de qualquer jeito, vai, não vai, vai não vai, até que eu disse que, pra eu ir, a comunidade iria também, pois a festa é uma manifestação cultural compartilhada. Neste instante, o tenente que estava no comando da operação, perguntou se eu era a prefeita de Olinda, pra falar com a comunidade, eu disse que este é o papel das lideranças comunitárias e pra eu ir, todos iriam comigo. A comunidade neste momento deu uma vaia grandiosa na policia e disse vamos todos, nos pneus se preciso for.

Nesta hora eles recuam um pouco e eu corro pra dentro do Ponto, onde eles sem mandato, talvez não me arrastassem, como havia argumentado. Ou seja, é perseguição, é intolerância, a mãe dos dois oficiais é evangélica, e eles tem intolerância com nossa religiosidade e com nossa brincadeira.

Graças a Márcia Souto, Secretária de Cultura de Olinda, que na hora do desespero resolvi ligar, e dizer que p.... é essa, pois na sexta-feira anterior tive uma reunião com esta secretaria, o controle urbano e a própria policia militar e ficou tudo certo, o Coco tem autorização da Prefeitura de Olinda pra realizar a Sambada. Graças a Deus Márcia ligou para o prefeito Renildo Calheiros e este pediu ao Secretário de Controle Urbano, Sr. João Luiz, que não o conhecia, para ir na Sambada de Coco do Guadalupe, amenizar os ânimos.

Quando este Secretário chegou ao nosso Ponto compreendeu de imediato o que estava aconteçendo, através da revolta da comunidade e do choro das crianças, chamou a mim e a minha mãe, Mãe Lúcia e fomos para delegacia de Casa Caiada em Olinda resgatar os instrumentos, Quando lá chegamos, estava o Capitão Dabiel, o Major Marcos e o Tenente que em momentos anteriores queria me prender, recebeu muito mal o Secretário, dizendo que o Secretário do Controle Urbano de Olinda ele conhecia, e que ele era secretário desde quando, e disse voce é advogado delas, voce sabia que esse coco superou os decibéis permitido por lei.

Então esse Secretário que nos acompanhava disse que exercia esta função desde o dia primeiro de janeiro e que era de competência de sua secretaria medir decibéis e não da Policia Militar de Pernambuco, e a autorização pra esta brincadeira ele mesmo trouxe em mãos. Neste momento eles viram que tínhamos autorização e articulação com o poder municipal, levaram o secretário lá pra dentro e liberaram os instrumentos.

No domingo, acordo com a mesma delegada que se mostrou surpresa na noite anterior, em relação a esta operação, entregando nossa aparelhagem de som, dizendo não saber nem compreender porque daquela operação toda contra o coco, tinha recebido ligação do Secretário João Luiz, e a pedido do Prefeito de Olinda, tinha solicitado a devolução do som do coco.

Nós fazemos o coco há mais de 10 anos e afirmamos que esta brincadeira vem da matriz afro-indígena, tem uma origem ancestral, não se origina dos palcos, nem das produtoras, promovemos pertencimento com a cultura do coco na comunidade.

Fazemos parte da Rede de Pontos de Cultura da Ação Griô Nacional. Fazemos parte da Rede Nacional Escola Viva

Temos o assento no GT de Matriz Africana na Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. Em 2006 a Sambada de Coco teve reconhecido seu mérito no prêmio Rodrigo Melo de Franco, na categoria Salvaguarda de bens imateriais pelo Iphan. Em 2006 a Sambada de Coco teve reconhecimento no edital CBC – Olinda – Primeira Capital Brasileira da Cultura. Em 2007 a Sambada de Coco recebeu o prêmio de Culturas Populares. Em 2008 a brincadeira do Coco de Umbigadinha, recebeu o premio Ludicidade do Ministério da Cultura.

Mas, isso não é suficiente.

Na Sambada de dezembro passado, um soldado que é da corporação do capitão Daniel, mandou bala no coco, a comunidade sabe que foi a seu mando. Prestei queixa na delegacia de policia no Varadouro em Olinda, na Ouvidoria de Policia e na Corregedoria de Policia de Pernambuco, nº do protocolo 5682/08. Minha mãe, Mãe lúcia de Oyá, Iyalorixá com 63 anos, fez um trabalho de pertencimento grandioso com a matriz africana, aqui na comunidade do Guadalupe em Olinda, trazendo uma oficina de nome Contos de Ifá, ocorrida semanalmente aqui nos 4 primeiros anos do nosso ponto de cultura, pertencimento e auto-estima nos jovens em ser de matriz africana, com certeza isso incomodou muito estes oficiais.

Temos que fortalecer nossa rede mocambos, pois as outras, Pernambuco por exemplo tem uma rede de pontos de cultura que é uma vergonha, só serve pra falar de editais, questionar a FUNDARPE disso ou daquilo, e a essência que é a resistência dos pontos, nem pra lá, que rede é essa? É papel da rede falar da perseguição ao nosso povo, principalmente nesta hora, na hora que a policia aparece.

Peço que o Conselho dos Pontos de Cultura de Pernambuco se posicione por favor sobre este contexto, embora sabemos que tem muito ponto de cultura que nunca vai ter a policia batendo em sua porta.

Temos que botar nossa dor de sermos perseguidos pra fora, QUE ESTADO É ESSE? QUE POLICIA É ESSA? que mata, que extermina, que agredi as pessoas e as crianças, com muita violência tomaram dos meus filhos a zabumba de mais de cem anos e que ensinamos ter respeito.

Minhas crianças estão traumatizadas, pense, mais de 40 policiais arrancando de suas mãos os instrumentos, em pleno ano de 2009, onde o Estado contraditoriamente fomenta recursos para os Pontos de Cultura, onde tem um MAIS CULTURA pra diminuir a violência urbana, que estado contraditório é este, pois não é a policia o braço armado do estado?

O Capitão Daniel, o Major Marcos e um motorista da TV Universitária de nome Edson estiveram 15 dias antes da sambada de fevereiro, no ponto de cultura e me disseram que ela não poderia mas ser realizada nesta rua, que tínhamos de voltar pro beco, donde viemos, expliquei pra ele que o beco já não mais cabe, são mais de 2 mil pessoas, e eu aluguei uma casa, pago 600,00 reais por mês, pra ter direito a usá-la como base do Ponto de Cultura.

O Capitão Daniel me disse que ele era uma pessoa muito influente e que inclusive fazia o Comando Geral da segurança oficial do Estado para o Bloco Galo da Madrugada, esse bloco que entrou pro g'nes book e recebe um milhão de pessoas, este que é o maior bloco do mundo e coisa e tal..., este ano inclusive, provocando indignação dos maestros pernambucanos, pois anuncia que traram em seus carros alegóricos as bandas de brega e o João do morro.

Me lembrei de Brasília, no Encontro Sulamericano de Culturas Populares, era quase meia noite e estávamos voltando pra casa da amiga Elaine, onde estávamos hospedados, EU, TC e Mestre Afonso do Maracatu Leão Coroado, quando do nada apareceu 2 carros de polícia e trancaram agente, perguntaram e QUESTIONARAM de quem era aquele carro, pois não podia ser de nenhum de nós três. Eles afirmaram como sempre fazem, que estavam procurando uma galera que tinha roubado um carrão por aquelas bandas, TC dirigia o carrão do Vince, que na época trabalhava na Presidência da República, resultado, se agente não se impõe, tu já viu..

Vamos fazer barulho, QUANTOS DE NÓS TEMOS QUE MORRER PRA TER AUTO-ESTIMA EM FAZER AS BRINCADEIRAS DOS TERREIROS.

FAZER COCO NÃO É CRIME !!!

Martin Luter King, Chico Mendes, Peter Tosh, Cacique Chição, previram suas mortes,
Nós estamos prevendo a nossa, apesar de estarmos por um fio

POLICIA É PARA QUEM PRECISA DE POLICIA

Resistência e muito Axé.


Beth de Oxum


http://jc.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2009/02/16/coco_de_umbigada_reclama_de_perseguicao_da_pm_em_olinda_41168.php

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