sábado, 1 de março de 2008

Reggae em produção caprichada


Pernambucana N'Zambi carrega na pegada pop no CD de estréia, Kaya, mas se oriente, que será lançado hoje no Clube Atlântico, em Olinda

Renato L
Da equipe do Diario

Nunca o reggae pernambucano ganhou uma produção tão caprichada quanto a de Kaya, mas se oriente, o CD de estréia da N'Zambi. Com a ajuda do guitarrista Ras André, da banda carioca Ponto de Equilíbrio, George de Souza (vocal), Paulo Ricardo (bateria), Gustavo Souto (guitarra), Diego Ilarrás (baixo) e Mauro Delê (percussão) registraram 12 faixas à altura do melhor que se faz no gênero em território brasileiro. O disco será lançado neste sábado, a partir das 22h, no Clube Atlântico, em Olinda.


Conexão com os ritmos e o imaginário africanos dá o tom das letras e melodias do primeiro álbum da banda Foto: Michelle Seixas/Divulgação
N'Zambi significa Deus no dialeto kimbundu dos povos bantus de Angola. No encarte do disco, eles explicam que escolheram o termo por sua "energia e motivação, pois além de ter um significado forte e presente em nossas vidas" é conectado "ao vocabulário de um povo bastante presente na identidade brasileira e pernambucana". A conexão com os ritmos e o imaginário da diáspora africana dá o tom, também, das letras e dos ritmos utilizados em Kaya, mas se oriente. É por isso que Zumbi, Jah e quilombos são termos recorrentes nos versos assinados por George Souza e que o ska, o dub, o jazz ajudam a enriquecer as bases rítmicas e harmônicas construídas na relativamente curta trajetória dessa banda formada em 2003.

Kaya, mas se oriente carrega, ainda, uma forte pegada pop - talvez para facilitar uma das estratégias traçadas pelo N'Zambi desde os primeiros passos. Afinal, nas palavras de George de Souza, "queremos mostrar que o reggae não é apenas uma música de gueto e a melhor maneira de fazer isso é tocar para outros públicos, ir a lugares onde não é comum escutar reggae. Ainda enfrentamos muito preconceito, inclusive de alguns produtores de evento, que acham que um show de reggae só atrai quem fuma um baseado e a gente sabe que não é exatamente assim".

Na tentativa de quebrar esse e outros preconceitos, o N'Zambi já percorreu os palcos de Florianópolis e de São Paulo, intensificando o intercâmbio com as bem-sucedidas cenas do Sul e Sudeste do país. "Sempre foi complicado para uma banda de reggae daqui alcançar expressão nacional", afirma George de Souza. A imagem que se tem do Recife ainda é a do mangue, bandas de rock com elementos regionais, essa coisa. Em Santa Catarina, as pessoas nos perguntavam se a gente misturava o reggae com ritmos pernambucanos. Fica difícil para as bandas locais se profissionalizarem".

As dificuldades, no entanto, não se resumem aos clichês dos produtores e do público. Continua uma batalha inglória encaixar uma faixa na programação das rádios. Segundo George, "o jeito é apelar para as rádios comunitárias e para as ligadas às universidades. Dá pra se infiltrar nas rádios comerciais, mas o jabá ainda é grande". Ainda assim, o público do reggae vem crescendo nos últimos quatro ou cinco anos. A noite deste sábado será um bom termômetro para se medir a força dos fãs do mais famoso estilo de música nascido na Jamaica.

Além do N'Zambi, teremos uma apresentação da banda alagoana Vibrações, considerada uma das mais importantes do Nordeste, do projeto M.A.C. Dub Sound System e do DJ Ragga,responsável pela carreira solo de Tiger (Faces do Subúrbio)

O ingresso antecipado e promocional está à venda nas Lojas Disco de Ouro (Rua 7 de Setembro, centro do Recife) e Destroy Surf Wear (Olinda) por R$ 8 e R$ 10 (com direito ao CD). Informações: 3221-0421.

http://www.pernambuco.com/diario/2008/03/01/viver9_0.asp

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